segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Entrevista – Uma entusiasta do Samba

Não existe na música baiana canto e dança tão singular e elegante como o da cantora Clécia Queiroz. Parece elogio de fã mais não é. De fato, é agradável ouvir seu recente disco, Samba de Roque, uma compilação de músicas do compositor, Roque Ferreira, onde a cantora expressa afeição e sintetiza respeito místico ao trabalho do autor. O disco, conta com arranjos elaborados, além disso, a banda que gravou é afinada, madura e produz um som com uma identidade toda própria. Já no palco, a atuação de Clécia cria um misto de gêneros do samba-de-roda, onde ecoa legítimos personagens do universo popular cotidiano. A formação e mestrado em dança da cantora ajudam há transmitir novas sensações ao público, em suas apresentações. Além do canto refinado, a cantora é uma mente inquieta. Em entrevista exclusiva, ao blog NOITE PONTO SOM, Clécia Queiroz sempre busca algo de relevante para transformar a cena de samba na cidade. Algo que traduz como inovação e que bem define o seu recado. “Em 2003 criei um projeto chamado Casa do Samba. Isso numa época em que quase ninguém falava de samba em Salvador, e não havia espaços reservados a esse gênero musical, que é a raiz de toda musicalidade brasileira”, relembra. Nessa entrevista, a cantora fala sobre sua carreira, shows fora do Brasil, parcerias, projetos e o atual disco. Confira.

NOITE PONTO SOM - Como iniciou sua relação com a música e quando pensou em fazer disso profissão?

CLÉCIA QUEIROZ -
A música surgiu na minha vida quando completei 15 anos e ganhei um violão de presente de aniversário. Estudei música erudita e popular, participei de um festival no Colégio Marista, ganhei em primeiro lugar, mas não pensava em ser cantora, aliás, era a última coisa que poderia imaginar. Não me acreditava, nem me imaginava como cantora. Foi participando como atriz em musicais que de repente as pessoas e os críticos de jornais começaram a falar de minha voz e assim comecei a pensar que poderia fazer um show. E o primeiro deles, me trouxe muitas alegrias como, por exemplo, ter recebido quatro indicações no Troféu Caymmi, incluindo a de melhor intérprete. Daí em diante não parei mais de cantar.

NOITE PONTO SOM - E o gosto pelo samba como surgiu?

CLÉCIA QUEIROZ -
Costumo dizer que o grande barato do samba-de-roda é que ele é múltiplo: ritmo, melodia, texto, dança, encenação e participação da audiência. E o meu gosto pelo samba vem através do corpo no samba-de-roda. Aos 13 anos entrei numa escola de dança que incluía muitas linguagens e uma delas era a de dança popular com Mestre King. No primeiro momento em que me ensinaram a dançar o samba de roda, saí dançando como se aquilo fizesse parte da minha vida desde sempre. Logo fui convidada, ainda criança a fazer parte do grupo de dança do Sesc e comecei a atuar como dançarina ainda muito jovem. Minha paixão pelo samba-de-roda aumentou com a pesquisa de Neuza Saad (Bebé) na Escola de Dança da Ufba, onde me graduei. Com ela fiz parte do grupo e de dois grupos de dança. O samba de roda era uma das molas mestras desses trabalhos. Depois, já como cantora, quis trazer essa pesquisa para o meu trabalho musical e em 2003 criei um projeto chamado Casa do Samba. Isso numa época em que quase ninguém falava de samba em Salvador e não havia espaços reservados a esse gênero musical, que é a raiz de toda musicalidade brasileira.

NOITE PONTO SOM – De quando há quando funcionou a Casa do Samba?

CLÉCIA QUEIROZ -
Funcionou entre agosto de 2003 e julho de 2004, sempre às sextas feiras e envolveu muitos compositores de samba da velha e da nova geração, além de muitos cantores que junto comigo somente cantavam samba nos shows do projeto.

NOITE PONTO SOM – Quais nomes passaram por esse projeto?

CLÉCIA QUEIROZ -
Passaram por ali nomes como: Walmir Lima, Edil Pacheco, Roberto Mendes, Raymundo Sodré, Batifum, Lazzo, Gerônimo, Carla Visi, Andréa Daltro, Ilê Ayê, Paulinho Boca de Cantor, dentre outros.

NOITE PONTO SOM – E por que foi extinto?

CLÉCIA QUEIROZ -
Porque recebi uma bolsa de estudos da Fundação Ford para fazer mestrado nos Estados Unidos. Quando voltei, retomei o projeto de samba em 2007, fazendo shows semanais em alguns espaços de Salvador como Tom do Sabor e Jequitibar Café, varanda do Teatro Sesi - Rio Vermelho, que culminou na gravação do CD “Samba de Roque”.

NOITE PONTO SOM – Quais são as suas principais influenciais musicais?

CLÉCIA QUEIROZ -
No samba, além das já citadas, são Dorival Caymmi, Carmem Miranda, Paulinho da Viola, Elza Soares, Martinho da Vila, Wilson Simonal, Elis Regina. Ultimamente, tenho ouvido muito os grupos de samba do Recôncavo com; Samba Chula de São Brás, Samba Swerdick (D. Dalva), Esmola da Cadeia, Roberto Mendes e uma jovem cantora paulista chamada Juliana Amaral.

NOITE PONTO SOM - Quando e como conheceu o sambista Roque e porquê de gravar um CD com músicas dele?

CLÉCIA QUEIROZ -
Estava buscando canções para o meu CD, que tivesse a ver com o samba de roda e, ao mesmo tempo, com o candomblé, pois, estava pesquisando a mistura de ritmos oriundos da tradição afro-brasileira com o samba. Daí ouvi uma canção linda no show de J. Velloso e ele me disse que era de Roque. Liguei, então, para Roque e pedi músicas. Ele me deu a princípio seis canções que não eram exatamente samba-de-roda. Pedi, então, mais algumas. Ele me deu mais onze. Apaixonei-me por todas e terminei decidindo fazer um CD inteiro com música dele.

NOITE PONTO SOM – Roque Ferreira é um compositor bastante requisitado no meio artístico...

CLÉCIA QUEIROZ -
Ele tem mais de 400 músicas gravadas por artistas como Zeca Pagodinho, Dudu Nobre, Martin’ália, Maria Bethânia, Alcione e não tem na sua própria terra o reconhecimento que merece. A partir do nosso CD, o Jornal A Tarde fez uma matéria de duas páginas inteiras com ele e o nome dele começou a circular mais. Algumas cantoras na Bahia e de fora do Estado já disseram que vão gravar CDs com músicas dele. A Maria Bethânia acaba de lançar um CD com algumas canções do Roque. Isso já é uma felicidade imensa que este trabalho me deu.

NOITE PONTO SOM – O CD conta com outras participações especiais?

CLÉCIA QUEIROZ -
O CD traz 11 faixas de canções de Roque Ferreira, e por isso o nome “Samba de Roque” – e duas faixas bônus: uma com um pout porri de samba-de-roda de domínio público e outra com um samba de Dona Dalva Damiana de Freitas, grande sambadeira e compositora de Cachoeira. Eu fiz uma canção com Roque, mas vai ter que ficar para o próximo CD, pois já havíamos terminado o disco quando ela aconteceu.

NOITE PONTO SOM - Os arranjos de Samba de Roque, além de muito bem trabalhado, percebe-se uma valorização no seu timbre vocal na interpretação das canções. Quem realizou a direção artística?

CLÉCIA QUEIROZ -
A direção artística é minha e de Vítor Queiroz meu sobrinho, meu grande colaborador, que é mestre e pesquisador do jongo e do samba. A direção musical é de Dudu Reis, mas o CD tem muito da minha concepção e os arranjos são meus, de Dudu, de Edú Nascimento, Keko Villarroel de todos os músicos que participaram do trabalho. Além do engenheiro de som André Rangel, que teve participação ativa no trabalho.

NOITE PONTO SOM – É um disco independente? Quanto tempo levou para ficar pronto?

CLÉCIA QUEIROZ -
Nós trabalhamos muito juntos, trocando idéias, ensaiando muito antes de entrar no estúdio mesmo porque o CD foi feito sem patrocínio e não podíamos perder tempo no estúdio. Na verdade, ele levou um ano e meio até ficar totalmente pronto, exatamente pela falta de recursos, uma vez que, gravar um CD independente é muito caro. Uma vez gravado, ainda em processo de mixagem e prensagem, começamos a trabalhá-lo em shows, e fizemos isso durante todo o verão de 2009. Finalmente fizemos um pré-lançamento no Projeto Música no Parque, e depois ocorreu o lançamento oficial para convidados na Sala do Coro, no Teatro Castro Alves, e para o público em geral no Teatro Acbeu em outubro. Agora estamos lançando-o em outros espaços e cidades da Bahia.

NOITE PONTO SOM - Em que estúdio o disco foi gravado?

CLÉCIA QUEIROZ -
No DuartEstúdio. Fomos os primeiros a inaugurar o estúdio.

NOITE PONTO SOM - O disco Samba de Roque têm um trabalho de encarte visual belíssimo. Como surgiu esse conceito?

CLÉCIA QUEIROZ -
O projeto gráfico é de Thiago Massaki, um estudante de Design Gráfico da Universidade Estadual da Bahia (Uneb). Foi seu primeiro trabalho e desenvolvi com ele o conceito e idéias. Thiago é um grande artista, sensível e muito aberto. Foi de fato um encontro maravilhoso entre nós.

NOITE PONTO SOM - Além de atentar para qualidade no canto das canções de forma delicada e afinada, é notório em seus shows o trabalho visual. Como é realizada a concepção de seus shows?

­CLÉCIA QUEIROZ -
Sou dançarina formada pela Ufba, atriz desde menina, cantora e mestre em Performance Arte pela Howard University (EUA), além de ter estudado Mímica Corporal Dramática por quatro anos. Então, como pode ver, sou uma pessoa da encenação. O figurino, o texto das canções e a performance corporal são tão importantes quanto a música. Trato cada canção como se fosse um texto de teatro e o figurino é idealizado por mim a partir do que descubro com a performance e, ao mesmo tempo, a performance vai se reafirmando e modificando a partir dele. Sempre foi assim nos meus trabalhos. No Samba de Roque, temos também a participação especial de duas dançarinas profissionais, além de onze crianças da Escola de Dança da Ufba, da qual sou coordenadora pedagógica. Criança é sempre um presente e esses meninos, dez garotas e um garoto, são bem especiais, sabem o que é dança popular e a realizam com muito profissionalismo.

NOITE PONTO SOM - Seu nome é visto em importantes festivais culturais em paises como Alemanha, Espanha e Estados Unidos. Quais as principais questões em tocar fora do Brasil?

CLÉCIA QUEIROZ -
O objetivo é divulgar nosso trabalho que fala muito da nossa terra, e das nossas raízes, portanto, divulgar nossa cultura. Fomos sempre muitíssimo bem recebidos. A dificuldade de não estarmos mais atuantes fora do país é porque as passagens aéreas para muitos músicos é item muito caro para o contratante. Se não fosse isso estaríamos muito mais presentes na Europa e nos Estados Unidos, pois convites não faltam.

NOITE PONTO SOM - Em sua opinião, quais são as mudanças mais substâncias musicalmente e culturalmente em seu trabalho após tocar fora do Brasil?

CLÉCIA QUEIROZ -
Tocar fora do país faz reafirmar nossas raízes, pois somos mais valorizados por ela lá do que aqui. A Bahia não costuma reconhecer seus próprios talentos, mas no exterior eles admiram e se encantam com nossa musicalidade e performance. Foi difícil voltar para a Bahia, pois, havia me tornado a cantora da embaixada do Brasil em Washington. Meu visto estava acabando e o cônsul queria me legalizar para que eu não voltasse. Mas eu tinha família aqui e não queria estar longe de minha terra pra sempre.

NOITE PONTO SOM - Nos seus shows a multiplicidade de pessoas notáveis do universo baiano são traços marcantes. De onde vem tanta criação?

CLÉCIA QUEIROZ -
A inspiração vem da minha história com o mundo de teatro, dança, performance. Sou uma curiosa da nossa gente, da nossa cultura. Desejo mostrar os personagens que habitam nossas ruas e que fazem à história do samba. Então, estudo e levo isso para o palco. Os turistas, daqui do país e de fora, amam isso. Tenho ouvido dos turistas nas apresentações que fazemos aqui em Salvador, as coisas mais lindas que já ouvi. As pessoas nos levam no coração. Fora do país é a mesma coisa. Fizemos shows em Vic, Barcelona, Frankfurt, Berlim, Los Angeles, Filadélfia, Washington... Nesta última fiz muitos shows.

NOITE PONTO SOM – Fora do país à platéia é formada mais por brasileiros ou estrangeiros?

CLÉCIA QUEIROZ -
A princípio, a platéia era formada basicamente por brasileiros, mas a partir do terceiro show, passamos a ter 80% de americanos. Os meus próprios professores na Howard University se encantavam com minha forma de cantar e mover em palco. E antes de eu voltar me disseram que eu havia mudado a concepção dos meus colegas de jazz. Pois, eles nunca usavam o corpo para cantar, e agora eles tentavam se expressar corporalmente a partir do contato comigo. Fiquei muito feliz com isso.

NOITE PONTO SOM - Apesar da democracia que a internet trouxe em termos de divulgação artística, em sua opinião, o que ainda falta para que o cenário baiano possa se fortalecer neste quesito?

CLÉCIA QUEIROZ -
Falta que mais pessoas tenham acesso a internet. Ainda não temos no Brasil um contato tão intenso de toda população com a rede, como acontece nos Estados Unidos, onde absolutamente tudo é feito através dela. Muitas pessoas aqui não têm computadores e precisam de dois ou três dias para se conectar. Acho que ainda vai demorar um tanto para que usemos mais intensamente a internet como ferramenta para acesso à cultura.

NOITE PONTO SOM - O samba é um gênero musical diferente do axé music. Na Bahia, atualmente, o axé music se fortaleceu de forma, digamos, imortal como o samba. Não fazendo comparações no quesito qualidade entre eles. Mas, como avalia o rumo do samba feito na Bahia, o que se preocupa com a fidelização a música e a poesia?

CLÉCIA QUEIROZ -
Apesar do samba-de-roda ser a raiz da música brasileira, ele não se firmou aqui como no Rio de Janeiro. De cinco anos para cá a gente passou a ver o samba mais presente em Salvador, e acho que nosso projeto Casa do Samba contribuiu bastante para isso, além da persistência de Edil Pacheco, Walmir Lima, os Irmãos Trabuco, Raymundo Sodré, Roberto Mendes e do pessoal do Recôncavo – Mestre Zeca Afonso do Samba Chula de São Braz, Zé de Lelinha, João do Boi, Dona Dalva Daminana de Freitas (Cachoeira)... Também o fato do samba-de-roda ter sido considerado Patrimônio Imaterial da Humanidade contribuiu para que novos cantores surgissem e agora estamos com bastante gente fazendo samba. Isso é ótimo! O samba tem que estar na sala de estar da nossa música e não apenas em guetos. Deve ser reconhecido como nossa mola mestra e raiz. Quanto à fidelização da música e da poesia, existe e sempre vai existir, música imediata, que vem e vai com a mesma força, e música que fica pra sempre. A maioria das emissoras de rádios têm assumido o papel de valorização do consumo imediato, o que é uma pena. Mas os bons compositores estão aí e cabe a nós cantores valorizá-los e trabalharmos junto com eles

NOITE PONTO SOM - Quais são seus projetos futuros, como cantora, compositora e atriz?

CLÉCIA QUEIROZ -
No momento estou cuidando da divulgação do meu novo CD, tanto aqui no estado da Bahia como fora dele. Pretendo levá-lo para o exterior também. Isso já é muito trabalho, uma vez que, sou uma artista independente. Como compositora sou muito preguiçosa. Só faço música quando tenho tempo ou necessidade para algum trabalho que pretendo fazer. Então deixo ela acontecer naturalmente. A atriz e a dançarina estão incorporadas no meu trabalho musical. Mas tenho saudade do teatro e espero fazer um musical em breve.

A cantora Clécia Queiroz recebeu as seguintes premiações:

Bolsa de Mestrado nos Estados Unidos - Concurso Nacional Programa Bolsa da Ford Foundation – 2003
Mensão Honrosa da Howard University – Uma dos cinco exemplos de toda Pós Graduação
Prêmio Copene de Cultura e Arte - Categoria Música - 2º. Semestre 1996
Troféu Caymmi Ano IX - indicação como melhor intérprete - Show "Blue Moon".
Troféu Bahia Aplaude - premiação como melhor atriz - Espetáculo de Imagens Musicais "Ade Até".
Troféu Bahia Aplaude - indicação como melhor atriz - 1º. Semestre de 1997 - Espetáculo Musical "Abismo de Rosas".
CD - Conspiração Baiana (Various Artists) - Tropical Music Records inc. publici.
CD - Chegar à Bahia- 1º. CD solo

Crédito das fotos – Rafael Martins

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Entrevista: recordação viva da cena punk baiana


Nos anos de 1960, Raulzito e os Panteras já faziam rock na soterópolis. Em 1970 apareceram bandas como Mar Revolto, Frutos da Vida, Nuvens Negra incendiando as noites na cidade com muito som punk. Já em 1980, a banda Camisa de Vênus, fez historia e se tornou referência para grupos baianos como Gonorréia, Espírito de Porco, Delirium Tremens, Arroto de Rato, Skarro, Abuso de Poder, Trem Fantasma. Nesta época, o cenário era abarrotado de punks, desfilando com seus topetes, jeans rasgados, correntes, coturnos e causando desconforto para os mais conservadores. Além disso, os pontos de encontro desses roqueiros eram desde uma praça fazendo um sonzinho aos mais inusitados como embaixo de viadutos da cidade. Entretanto, os dois circos que existiam naquela época e ficavam localizado na orla atlântica são as principais lembranças dessa geração: Troca de Segredos e o Relâmpago eram os seus nomes. Lá, aconteciam diversos shows tanto de bandas locais como de fora. Em entrevista, exclusiva ao blog NOITE PONTO SOM, Marcão Botelho, 42 anos, fala sobre sua carreira musical, shows, produtores e descreve fatos interessantes sobre os anos 80. Em paralelo a música, Marcão Botelho é professor de Literatura Brasileira, colecionador aficionado de discos de vinil e uma figura respeitável no cenário musical. Na efervescência do movimento punk baiano montou grupos importantes como: Os Porcos, Ofensa Social, Delirium Tremens. Não nessa mesma ordem, Botelho é baixista, guitarrista e vocalista, e suas palavras são um depoimento precioso de um período fértil da História do cenário punk baiano. Ele atualmente toca baixo na banda Coveiros do Cover que conta ainda em sua formação com lendários músicos do universo alternativo rock: Marcos Arapuka Clement (guitarra), Jerry Marlon (guitarra), Guiga Bluesrock (bateria) e David Coverdelle Roth (vocais e berros). Leia à entrevista abaixo.

NOITE PONTO SOM - Quando teve o primeiro contato com a música e quais grupos te influenciaram?

MARCÃO BOTELHO -
Bem, na infância, ouvi muito Roberto Carlos e Erasmo (ainda ouço hoje), por conta da fissura de minha mãe por esses caras. Até hoje sei de cor a ordem das músicas e as letras daqueles discos clássicos de Roberto e Erasmo. Ouvi muito Rita Lee e Tutti Frutti, principalmente Fruto Proibido, que é discoteca básica. Em 1979, um primo meu veio do interior para estudar em Salvador e foi morar em minha casa. Na bagagem, ele trouxe uma imensa coleção de Elvis Presley e me converteu. Até hoje tenho alguns vinis daquela época, tipo Aloha From Hawaii, que roubei do meu primo. Sempre que rolavam os filmes de Elvis e Roberto na Sessão da Tarde, eu inventava alguma doença para matar aula. Sem saber, contrai a fissura e a compulsão de colecionar discos e memorabilia do meu primo. Depois, por conta das festinhas que rolavam no bairro, a também aquelas novelas como Estúpido Cupido, Dance Days etc., descobri a disco music e a música black americana, principalmente a Motown, e me tornei um fanático pelos discos dos Jackson Five. Na época, rolava o desenho animado deles todas as tardes na TV. Eu morava no Jardim Cruzeiro e fiquei sabendo que, na Boa Viagem, havia um cara que tinha a coleção completa dos Jackson. Fui lá no queixão bater na porta dele, cujo nome não lembro mais, para gravar uns cassetes. O cara então queria vender um disco que havia ganhado de alguém, mas que não o interessava: Never Mind the Bolocks Heres The Sex Pistols. Consegui uma grana com meu tio e comprei o disco. A audição desse disco foi “mortal”, um divisor de águas na minha vida, fiquei siderado, foi o meu “romance de formação” e disco de cabeceira até conhecer The Clash. Logo, por conta do meu interesse por punk rock, fiquei sabendo do Rock Special, o programa emblemático que Marcelo Nova fazia na Rádio Aratu, e também o Sessão Maldita, de Gutembergue Cruz. Estes foram verdadeiras escolas de formação rocker, minhas faculdades de rock roll na modalidade EAD, kkkkkk. Não tocava instrumento algum (ainda não toco nada que preste hoje, apenas finjo que toco). A necessidade de tocar guitarra surgiu depois da descoberta do lema punk “do it yourself”, mas isso foi depois da cena instaurada pelo Camisa de Vênus, que deu o chute no formigueiro. Eu cheguei a tocar guitarra em algumas bandas, como Ofensa Social e Delirium Tremens, mas era uma merda que dava para o gasto. Quem me mandou tocar baixo foi Cláudio Lacerda, quando formamos os CDFS. Mas apenas por falta de um baixista. Jerry Marlon me deu umas aulas, que duram até os dias atuais, estilo “cabeça-de-nota-e-condução”, kkkkkk.

NOITE PONTO SOM - Como surgiu de montar a primeira banda e onde rolou o primeiro show?

MARCÃO BOTELHO -
Primeiro Os Porcos, depois Ofensa Social, que tinha Jerry Marlon no baixo, eu e Jorginho Page nas guitarras, Killer Band na bateria e Luciano Grey nos vocais. A nossa estréia foi na festa de aniversário de Jerry, na sala da casa dos pais dele, em São Gonçalo. Foi um horror para os convidados, que saíram de mansinho, mas uma honra para banda por ter criado um mal-estar terrível, kkkkk. Tocávamos umas três ou quatro música nossas (o “hit” era A saída é a anarquia) e o resto era cover do Camisa, a nossa matriz, kkkkkk. Depois Cláudio Lacerda chamou a gente para tocar no Instituto Feminino (sic), mas agora com ele na guitarra e eu virei “cantor”. Aí nos tornamos os CDFS por conta da ocasião, né? Esse show entrou para as histórias lendárias do rock roll em SSA, por conta de uma treta que rolou com uma banda de axé music, de outros estudantes, que iria tocar depois da gente. Os caras levaram uma turma barra pesada dos Barris e aí rolou um briga imensa, correria pelas escadas, gente pulando os muros, espancamentos, gritaria. Dizem, não sei, que foi por minha causa, simplesmente porque quando vi os caras afinando uma guitarra baiana, símbolo máximo do que mais odiávamos, mandei os “axés” se fuderem e declarei guerra aberta “à música de carnaval”, como dizíamos na época. Eu escapei da surra por pouco, entrando em um ônibus que passou na hora H. O chato é que já tínhamos planejado roubar a guitarra stratocaster Giannini da escola, que já estava escondida em algum lugar. Mas veio a confusão e tivemos que fugir, kkkkkk. Fiquei proscrito e proibido de andar nos Barris por um bom tempo. Quando fomos devolver a bateria a Hélio Rocha, que morava nos Barris, roubamos o revólver 38 do pai de Jorginho e fomos armados. Quem conseguiu e negociou minha liberdade condicional foi Hélio Rocha, que morava no bairro, era meu amigo e conhecia a turma de lá. Ele então convidou a mim e a Jerry para entrarmos no Delirium Tremens.

NOITE PONTO SOM - Como era fazer rock punk soteropolitano na década 80? Onde aconteciam os shows e que casas noturnas eram o ponto de encontro da galera rock, dessa época?

MARCÃO BOTELHO -
Na verdade, era como disputar uma corrida de cavalos montados em um jegue manco. E eu não quero com isso “auratizar” a nossa cena, como se fôssemos heróis injustiçados crônicos e pobres coitados excluídos. Era a opção implícita estar à margem, criar conflitos, ir de encontro ao consenso, como era típico do niilismo, podemos dizer, punk. Embora quiséssemos também cavar tocas no, digamos, mainstream. Mas Salvador era ainda mais acanhada do que é hoje, mais isolada das “capitais”, e ainda aquela “utopia de lugar”, a terra da harmonia dos contrários, a pequena cidade grande, capital e província, mais colonial que industrial... O Camisa tocou em lugares sem uma relação com o rock, tipo Casa dos Festejos e New Fred’s, que eram espaços para serestas ou grupos folclóricos etc. Mas aí sugiram os circos Relâmpago e Troca de Segredos, onde rolaram grandes shows que juntaram o público ouvinte do Rock Special. Nós ainda não avaliamos a importância do radio e do programa de Marcelo como catalisadores dessa cena. Quem era o público dos primeiros shows do Camisa? Os ouvintes do Rock Special, basicamente. Eu conheci todos os meus parceiros a partir daí, nos shows do Camisa, que foi um fenômeno quase imediato de público desde os primeiros shows. O público ouvinte que estava ligado em rede pelo rádio e era virtual se encontrou nas portas dos shows e daí surgiram outras bandas. Como os shows do Camisa eram experiências de choque extremas, a cena se desdobrou muito rapidamente. Na verdade, o Camisa, para o bem ou para o mau, quer a gente queria ou não, abriu uma ferida narcísica naquela forma de pensar e inventar a identidade na Bahia, a chamada baianidade. Era uma ruptura, com a qual os jovens que ouviam as informações mais recentes do rock, principalmente o punk e pós-punk, se identificaram de imediato, porque não tinham grande interesse em Tropicália, Novos Baianos, Clube da Esquina, A Cor do Sono etc., pois não tinham experimentado o momento heróico dessas gerações que vieram antes. Ou seja, o que era ruptura nos 60 e 70, já havia se tornado “tradição” no início dos 80. A exceção, graças a Marcelo, era Raul, é claro.

NOITE PONTO SOM - Com relação a equipamentos de sons, tinha alguém que ficava na “responsa” de equalizar o som dos shows ou eram vocês mesmos? Como acontecia esse esquema?

MARCÃO BOTELHO –
Som com estrutura profissional, naquele momento, que eu lembre, só João Américo Sonorizações, que era o sonho de consumo das bandas. Depois Macedo Marques e Waltinho Seixas abriram a Natura Som e Luz, que praticamente patrocinou e apoiou vários shows, inclusive do Ramal 12. Nicolau Rios, do Trem Fantasma, também foi importante pra caralho e devemos muito a ele, pois, além de mixar vários shows, às vezes com uma concepção sonora, digamos, bem psicodélica, foi o grande agitador, na produção, daquela cena, organizando muitos festivais, fazendo as fotos de divulgação, correndo a cidade naquela Brasília vermelha caindo aos pedaços, que, por sinal, virou um ícone do rock roll local, inclusive por aparecer nos cartazes, principalmente os paralamas carcomidos pela ferrugem... Lembra do carro do Detetive Muttley? Pois é, perde para a Brasília de Nicolau.

NOITE PONTO SOM - De que forma as bandas ganhavam público?

MARCÃO BOTELHO -
Cara, era mais no boca-a-boca mesmo, pois quase todo mundo se conhecia dos shows do Camisa, e o público das bandas eram as próprias bandas e os amigos das bandas, basicamente. Cartazes, filipetas e os impagáveis big hands de Joelino, que fazia quase de graça. Pichações nos muros rolavam muito também e eram “um meio de comunicação” que achávamos eficaz.

NOITE PONTO SOM - A mídia divulga os eventos?

MARCÃO BOTELHO -
Às vezes, rolavam umas notinhas nos jornais, sobretudo na Tribuna e Jornal da Bahia, que davam mais espaço para as bandas. Marcelo também mandava uns recados via rádio.

NOITE PONTO SOM - Os CDFS no Circo Relâmpago em 1984: cena rocker punk. Como avalia o cenário atual em relação há aquele período?

MARCÃO BOTELHO –
Bem, houve um momento, logo após a ida do Camisa para o sul, em que se esboçou um “movimento punk” em torno das bandas, embora muitas delas não tivessem qualquer envolvimento programático com movimentos. Como dizíamos na época, só acreditávamos no movimento pélvico e das ondas. Mas, por conta das referências sonoras que Os CDFS tinham, U.K. Subs, Cockney Rejects, Stiff Little Fingers, MC5, Tom Robinson Band (esta era uma obsessão minha e do guitarrista Cláudio Lacerda) e, principalmente, depois que inventaram (eu juro que não fui eu, ao contrário do que dizem) um significado oculto para a sigla CDFS, Camadas Dos Fodidos Sociais, muito embora fôssemos uma Cambada De Fodidos Sociopatas, muita gente da periferia de Salvador, identificada com o punk, aparecia nos shows. Lembre-se que éramos todos da perifa, Jardim Cruzeiro, São Gonçalo, Pernambués, Beiru etc. e aí os amigos do bairro davam uma força e formavam um pequeno público. Aquele show no Relâmpago foi produzido por Nicolau Rios, é claro.

NOITE PONTO SOM - O excesso de violência durante os shows foi um dos entraves para o fortalecimento da cena punk baiana na década de 80? Recorda-se de algum conflito grave?

MARCÃO BOTELHO –
Cara, têm umas cabeludas, como aquela em que um cara cuspiu em Gustavo (guitarrista do Camisa) e este chutou a boca do sujeito. Porém, a mais engraçada foi no Festival da Band, no Troca de Segredos e no Relâmpago, quando um monte de parasitas apareceu por lá e tentou tocar. O público não comeu nada, né? Cid Guerreiro, então Cid Pororoca, chegou com um figurino que misturava Poderosa Ísis com Rodaque e levou várias correntadas nas sapatilhas cheias de lantejoula. A vocalista da Abuso de Poder ficou com um pé preso nas mãos de uns punks na frente do palco. Eduardo Scott sugeriu “sem maldade” a Conde Espinheira, baterista da Velorium, uma banda de hardcore, como “seria legal puxar uma levada de blues no meio do hardcore”. E o cara fez isso! Rolou uma treta séria e a banda, acho, acabou ali no palco mesmo. Eu, sinceramente, gostava desses conflitos, embora fosse frouxo o suficiente para não participar deles. Vi tanta história que não dá pra contar aqui.

NOITE PONTO SOM - Rolava rivalidade entre as bandas no sentido de algumas tocarem em certos locais enquanto outras não?

MARCÃO BOTELHO –
Rolava, é claro. Os caras das bandas eram os mais cruéis críticos de outras bandas, porque eram o primeiro o público e o primeiro algoz. Rolava ciumeira, alguns eram mais ortodoxos em suas preferências sonoras, outros mais “ecléticos”, uns se vestiam de uma forma, outros de outra, coisas típicas de subculturas tribais em ambientes urbanos.

NOITE PONTO SOM – Quais diferenças houve em relação a festivais de música punk da década de 80 para agora?

MARCÃO BOTELHO –
Não sei, cara. O punk se desdobrou em um monte de coisa, né? Ficou dogmático em alguns casos, arrumadinho em outros, mas a base do gênero ainda está ativa. É por isso que eu ainda posso tocar. Mas eu perdi o contato com a cena, com os festivais.

NOITE PONTO SOM - Com relação à banda, porque os Coveiros do Cover resolveram retornar?

MARCÃO BOTELHO -
Somos amigos há quase trinta anos. Em um churrasco na casa de David Roth, após analisar o desenvolvimento avassalador de nossas barrigas, lancei um desafio: que tal batermos um baba nos fins de semana? E David ponderou e respondeu: que tal a gente se reunir, não em um campo, mas em um estúdio e tocar de brincadeira apenas canções do The Clash, nossa banda predileta? É claro que a proposta dele foi aceita. Ainda bem. O baixista Jerry Marlon (nosso guitarrista), que é músico profissional, marcou uma pauta em um estúdio, que é nossa casa hoje, o Zion Flag, de Conrado. Nos ensaios, tomamos gosto e “fundamos” o Zé Clash. Depois Jerry gostou da onda e propôs que fizéssemos um show. Ensaiamos outras coisas que adoramos também, principalmente The Who e Sex Pistols. Aí alguém sugeriu tocarmos as nossas músicas dos anos 80, Espírito de Porco, Ramal, 14º Andar. E aí foi. Nosso primeiro show aconteceu em 25 de julho deste ano, no Farol Music Bar, no Rio Vermelho, em Salvador, com um público que sinceramente não esperávamos, mais de 200 pessoas. Foi mais uma festa e não tinha nada de Ploc. Vamos tocar pela primeira vez em Camaçari, no sábado 7 de novembro. Depois fazemos outro show em Salvador, na sexta-feira 13 de novembro, na segunda festa Troca de Segredos, no Groove Bar (Barra). Estamos na maior expectativa com o show de Camaçari. Por ser uma cidade próxima ao Pólo Petroquímico, a Detroit baiana, kkkkk, onde residem pessoas ligadas à vida industrial, acho que a cidade tem um público de rock grande e que haverá afinidade com o nosso tipo de som.

NOITE PONTO SOM - Clássicos do punk (Ramones, Sex Pistols, The Clash) e mais canções que fizeram a trilha dos anos 1980 (Talking Heads, The Jam, Bowie...) estão no repertório. Mas os Coveiros têm a pretensão de gravar algum trabalho autoral dentro dessa proposta?

MARCÃO BOTELHO –
Boa pergunta... Ainda não discutimos isso na banda. O projeto inicial é tirar do baú o repertório que compusemos nos anos 1980, composições de outras bandas da cena local da época e as coisas que a gente gostava de ouvir. A banda vem se dedicando a essa proposta de memória dos anos 80, por enquanto. Acho que ainda temos muito o que fazer nesse sentido. Nosso guitarrista, Marcos Clement, já falou na possibilidade de novas composições. Quem sabe mais adiante... Ou talvez podemos voltar à ideia original e bater um baba.

NOITE PONTO SOM – Atualmente, como você avalia a cena punk baiana?

MARCÃO –
Cara, eu não saio muito de casa, fico à noite ouvindo música, vendo filmes, limpando os vinis, lendo. Não durmo cedo, sou um notívago nato, mas não freqüento muito os shows das bandas, embora ouça as músicas, compre os discos. Gosto do som de Messias, do Retrofoguetes, do Theatro de Serafim e ouço até hoje o disco Heartfelt Sessions, do Deadbillies, que eu considero “um clássico”.

NOITE PONTO SOM - Quais são os próximos projetos dos Coveiros do Cover?

MARCÃO BOTELHO –
A vantagem de ser “veterano” no rock é que a gente faz as coisas sem ansiedade, tudo no seu tempo para que o resultado seja de boa qualidade. Também tem o fato de todo mundo ter atividades paralelas. Pretendemos continuar divulgando informações sobre a cena rocker baiana dos anos 80 tanto nos eventos como no blog da banda um espaço que tem gerado debates interessantes.

Mais informações:

As fotos no estúdio de parede azul são de Fábio Marconi.
Foto 1 - Jerry, David, Marcão.
Foto 2 - Jerry, Marcão.
Foto 3 - Banda - Coveiros do Cover
Foto 4 - CDFs - 1984
Foto 5 - Ofensa Social - 1982
Foto 6 - Claúdio Lacerda- Banda Ramal 12
Foto 7 - Foto em PB – Banda Ramal 12 – crédito Hamiltom Pena.
Foto 8 - Banda Delirium Tremens

Blog - www.coveirosdocover.blogspot.com

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Pop rock na Parada

O cantor e compositor Afonso Penna estará acompanhado de sua banda no trio Germa no dia em que se comemora o orgulho Gay de Salvador. O evento acontece no próximo domingo (25), no circuito Campo Grande, e contará com diversas atrações, inclusive, com Penna, que fará um pop rock, funk, dancing de muito balanço. O cantor promete não deixar ninguém parado.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Encerramento: ZonaMundi

Acontece nesta sexta-feira (23), a última edição do Zona Mundi, evento focado em realizar shows de artistas locais e de outros estados, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM). Neste dia, ocorre a exposição retrospectiva: Art Mov, o show do grupo Radiomundi e a performance de Davi Cavalcanti. Esse evento agregou num mesmo espaço, um público não apenas, ligado no universo da música, mas, antenado em expressões como: video-arte, vjing, regionalismo e os segmentos da arte eletrônica e digital. Resta, agora, torcer para que o ZonaMundi, retorne em breve e, se torne permanente na agenda cultural da cidade. Vale destacar; que o talentoso e saudoso percussionista, Ramiro Mussoto constou na escalação do Zona. Os shows começam às 20h. Os ingressos custam R$ 4,00 (inteira) e R$ 2,00 (meia). O museu de Arte Moderna da Bahia, fica localizado na Avenida Contorno, Solar do Ferrão, Cidade Baixa.


SERVIÇO
www.zonamundi.blogspot.com

domingo, 11 de outubro de 2009

Cancionista promove show em Salvador

A cantora, compositora e instrumentista paraibana Socorro Lira chega a Salvador para apresentar o show – A Canção -, que acontece no dia 22 de outubro (quinta-feira), às 20h, no Teatro Sesi, no bairro do Rio Vermelho. Em sua apresentação, Lira receberá a cantora Marilda Santanna, que fará uma participação especialíssima dividindo o canto em algumas canções. Socorro Lira vem se apresentando em muitos Estados e, inclusive, participou do recente Festival Internacional, Rómulo Gallegos (CELARG), em Caracas na Venezuela. Nesta apresentação em Salvador, a cantora fará um passeio por músicas autorais que passeiam pelos seus cinco discos de carreira. E interpretará canções que dialogam com gêneros como cantigas, reisados, toada, maracatu, samba e galope.
SOCORRO LIRA
LOCAL –
Teatro Sesi, Rio Vermelho, Rua Borges dos Reis, 09 - Tel.: (71) 3535-3020.
DATA – 22 de outubro (quinta-feira)
HORA – 20hs
INGRESSOS – R$ 15,00 (inteira) e R$ 7,50 (meia). Os ingressos também podem ser adquiridos de forma antecipada no Restaurante Grão de Arroz, Rua Minas Gerais, 133 Pituba ou na Ladeira dos Barris, na loja Pérola Negra, Canela.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Dani Lasalvia em Madregaia

A cantora paulista Dani Lasalvia celebra com show e participações especiais, o sucesso de seu primeiro CD, Madregaia. O disco tem influências musicais que vão da música regional brasileira a gêneros como Coco, Fado e Blues. A artista fará show de lançamento do álbum, e o público poderá conferir letras de vários autores, de Chico Buarque aos índios tremembés, no mês de setembro, quinta-feira (10) às 22h, na Boomerague. Neste show, Dani Lasalvia será acompanhada por instrumentos de percussão e cordas.

O disco de estreia é duplo e conta com 26 canções fruto de dez anos de pesquisas, onde a variação de estilos revela a energia e a suavidade de um trabalho inovador. O nome do disco é uma referência ao ser poético dado pelos antigos gregos às Deusas da Terra e também as teorias de que a terra seja um sistema vivo que dispõe de um organismo regido por processos vitais tendo a água como peça fundamental.

A seleção de músicas para a feitura do álbum partiu de um universo de cerca de 200 canções, arranjadas durante viagens por cidades do interior de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. A direção musical é da cantora em co-participação com o violeiro e cantador mineiro Dércio Marques, dando um estilo singular a um trabalho fundamentalmente brasileiro.

Participações – Quem abre a noite para a cantora Dani Lasalvia é o cantor e compositor Moacy Mendes, com o show intitulado - A Saga de um Caantigueiro, onde apresenta o sentimento de amor e respeito que o catingueiro nutre em relação aos elementos que compõem a natureza. O cantor mesclará repertório autoral com o de autores do cancioneiro nordestino como Patativa do Assaré, Zé Ramalho, Gordurinha, Nelinho, Renato Teixeira, Raul Seixas e Wilson Aragão, Eugênio Gomes e Luiz Gonzaga.

SERVIÇO

O QUÊ – Dani Lasalvia em Madregaia / Abertura – Moacy Mendes em - A Saga de um Caantigueiro.
QUANDO – Dia 10 de Setembro, quinta-feira, às 22hs.
ONDE – Boomerangue - Rua da Paciência, 307, Rio Vermelho. Tel.: 3334-5577. R$ 15,00 (sem consumação mínima). Os convites também podem ser adquiridos de forma antecipada no Restaurante Grão de Arroz, Rua Minas Gerais, 133 Pituba ou na Ladeira dos Barris, na loja Pérola Negra, Canela,

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Itinerário: regional e eletrônico

O evento que mescla conferências e shows de artistas locais e de outros estados, Zona Mundi, acontece nos dias 20 e 21, desse mês, no estacionamento do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM). A palestra de Lucas Santana do Website Diginois, no primeiro dia, acontece às 10hs da manhã, no período da tarde, às 14hs, inicia-se o workshop com Sensorial Sistema de Som, do Rio de Janeiro. Na noite do dia 21, quem comanda a festa são os grupos; Sensorial Sistema de Som, RadioMundi e Daniel Lisboa. Os shows começam às 20h. A entrada é franca.
A música regional invade o Teatro Gamboa Nova, nesta quinta-feira (13). Os músicos Cássio Nobre e Júlio Caldas com o apoio do percussionista Ricardo Hardmann mostram o show-Viola de Arame, onde tocam canções de samba de viola, baião de viola, chulas, ponteios, modas, choros, dentre outros gêneros. Neste dia, haverá projeções em imagens do músico pesquisador Cássio Nobre sobre a viola machete do recôncavo baiano, além das canjas dos convidados Laila Rosa, na Rabeca, e Celo Costa na Viola. Vale destacar, que Cássio e Júlio acompanham artistas de renome tanto da cena local como nacional. E 2008 e 2007, eles, respectivamente, lançaram os CDs solos intitulados, Última Pele e Pithecantropus Erectus. O teatro Gamboa Nova fica localizado no Largo dos Aflitos. A entrada custa R$ 5, 00. O show começa às 20hs.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Entrevista – Álbum único coletivo

Muitas vezes, há quem pense que o segundo trabalho de um artista não apresenta maturidade suficiente, porque, se encontra ainda na fase embrionária do pouco tempo de estrada, da afinação no canto ou do trato com as palavras, como condições fundamentais para atestar credibilidade, isso em alguns casos, pode ser engano. Nascido em Santo Amaro da Purificação, o cantor J. Velloso alinhou-se com músicos e parceiros competentes, assim como, a uma miscelânea de ritmos musicais existentes para produzir seu segundo disco. O álbum leva o nome, J. Velloso e Os Cavaleiros de Jorge, dentre outros significados, em alusão afetiva aos parceiros de criação artística. Experiência é o que não lhe falta, uma vez que, atua há tempos, na área musical, inclusive, lançou de forma independente, seu primeiro trabalho, Aboio para um Rinoceronte, de 2004. Como compositor, suas letras estão nas vozes de artistas do porte de Gal Costa, Maria Bethânia, Daniela Mercury. Já do outro lado do palco, na figura de produtor musical, disseminou ao ouvido do público trabalhos como os de D. Edith do Prato e Vozes da Purificação, Riachão, Batatinha, Mariene de Castro. Em entrevista ao blog NOITE PONTO SOM, J. Velloso revela que compôs uma canção inédita com o mítico e importante tropicalista Jorge Mautner. O selo homônimo ao título do disco, porém, sem a grafia do nome do cantor é de sua autoria. E, se por um lado, J. tem como meta pessoal divulgar o recente disco realizando shows promocionais em diversos espaços tanto fora como em Salvador. Por outro lado, tem de administrar seu tempo nas duas produções na qual está envolvido com o selo: lançar os discos, do americano Clifton Daves, e o de valsas inéditas do rei do baião. Confira à entrevista.

NOITE PONTO SOM - Quem o incentivou a cantar?

J. VELLOSO -
Acho que quem me incentivou a cantar foi minha tia e madrinha Nicinha. Comecei a olhar a música como profissão depois que passei a ser gravado por intérpretes e por meus parceiros. Entretanto, trabalhar com música é muito prazeroso, mas a luta é grande.

NOITE PONTO SOM - Você é sobrinho de Caetano Veloso e Maria Bethânia. Com que freqüência tem contato com eles?

J. VELLOSO
- Encontro com eles quando vêm à Bahia. A Bethânia eu mostro tudo que faço e ela sempre me diz algo.

NOITE PONTO SOM - Você é compositor. A quem atribui à facilidade para compor?

J. VELLOSO -
Não sei se tenho facilidade. Meu trabalho é muito intuitivo, contudo, também gosto de compor por encomenda, principalmente, se o motivo me toca.

NOITE PONTO SOM - Com que nome da música tem vontade de compor daqui há dez anos?

J. VELLOSO -
Não sei... Talvez com algum artista jovem que ainda venha a surgir. E, eu possa lhe passar a minha experiência e ele me estimular com o olhar pra vida dos jovens e com a nova música que há de vir.

NOITE PONTO SOM - Quando compõe se prende mais na parte musical: ou às vezes precisa de uma palavrinha para encaixar o verso no acorde?

J. VELLOSO -
Meu processo é sempre ligado a palavra e as imagens que elas podem trazer dentro de uma melodia. Ultimamente, quando compõe sozinho, tenho feito letra e música juntas.

NOITE PONTO SOM - Você se considera um cara musical, ou de muita intuição por ouvir as coisas?

J. VELLOSO -
Me sinto musical por não ser músico e muito intuitivo por não ouvir muita música.

NOITE PONTO SOM - Como foi a experiência de cantar com Jorge Mautner, no carnaval?

J. VELLOSO -
Ele é incrível...Conheço Jorge Mautner da casa de Caetano faz muito tempo, mas me aproximei dele após uma ideia de minha produtora, Luzia Moraes, que é escritora e também minha mulher, de fazermos no Carnaval da Bahia, no bairro do Rio Vermelho, um arrastão com Jorge Mautner e Jorge Vercillo, o que foi maravilhoso. Nessa ocasião, eu e Jorge Mautner fizemos uma música para São Jorge, ainda inédita, que eu adoro e, logo depois, aconteceram alguns shows aqui na Bahia, uns 4 shows.

NOITE PONTO SOM - Você lançou o disco J. Velloso e Os Cavaleiros de Jorge? Fale um pouco sobre isso?

J. VELLOSO -
Lancei... É um trabalho novo, mais pop que o primeiro. Conto com participação dos meus parceiros Roberto Mendes e Roque Ferreira e também de Luciano Bahia. A direção artística é minha e de Luciano Bahia e a produção é do guitarrista Alex Mesquita. Gravei no estúdio de Alex Mesquita, aqui em Salvador, mas coloquei os vocais no estúdio da Biscoito Fino. Isso aconteceu porque Bethânia gostou do CD e lançou pelo selo da Quitanda-Biscoito Fino, neste site qualquer pessoa, pode saber mais sobre ele. O disco está à venda em todas as Livrarias Saraiva do Brasil.

NOITE PONTO SOM - Quais foram às mudanças mais substâncias em termos musicais deste segundo em relação ao primeiro: Aboio para um Rinoceronte?

J. VELLOSO -
Esse é mais leve e profissional. O primeiro é muito de reverência para coisas importantes da minha vida é um disco que eu adoro, mas esse, J. Velloso e Os Cavaleiros de Jorge, têm um olhar mais maduro, principalmente no canto. O nome do CD foi escolhido pela cumplicidade de como ele foi feito, ou seja, com a participação dos músicos e de outras pessoas, como Roney George, artista plástico, que me pediu para que eu passasse a cantar, isso tem três anos.

NOITE PONTO SOM - Quais motivos te levaram a também virar produtor musical (Selo Cavaleiros de Jorge), já que produziu discos de Batatinha, Edith do Prato dentre outros?

J. VELLOSO -
Acredito que foi o CD de Batatinha que me fez entrar nessa de produtor. E fiz isso com Paquito, cantor e compositor de rock, pois desejávamos mostrar que na Bahia há outros tipos de música sendo feita. Além disso, Batatinha era um exemplo vivo do que estávamos ou estamos perdendo em detrimento de uma música que descobriu e criou caminhos comerciais muito bem elaborados. A oportunidade de produzir discos destes artistas apareceu de um sonho e de um desejo de entrar na briga.

NOITE PONTO SOM - O selo Cavaleiros de Jorge funciona de que maneira, apenas divulga ou investe no artista?

J. VELLOSO -
Hoje os selos não têm condições de investir em artistas, isso na sua grande maioria, ou você é um produto que eles criaram e investem como donos, ou os artistas têm de ir descobrindo seus caminhos com criatividade. E o selo, Os Cavaleiros de Jorge deseja ser uma porta para que esses sonhos possam passar de um lugar invisível para outro um pouco melhor, quando no caso, é claro, o desejo seja o de ser visto.

NOITE PONTO SOM - Quem do meio musical te comove quando você escuta?

J. VELLOSO -
Adoro os tradicionais como Bethânia, Caetano, Gil, Gal, Chico.... Os novos como Lirinha do Cordel do Fogo Encantado, Lenine, Céu, Luciano Bahia, Arnaldo Antunes. Além daqueles que fizeram a música brasileira ser o que ela é, ou seja, Caymmi e Luiz Gonzaga. Gosto também da Dalva de Oliveira, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa, Vânia Abreu.... Além dos baianos Márcio Mello e Alexandre Leão.

NOITE PONTO SOM - Quais são seus projetos futuros, como cantor e produtor?

J. VELLOSO -
Como cantor é o de divulgar meu disco novo fazendo shows e lançamentos itinerantes com os Cavaleiros de Jorge. Desejo poder trabalhar sempre mais com música, o que não é fácil, mas é muito bom. Quanto aos projetos novos: estou produzindo com Luzia Moraes dois CDs; um com Clifton Daves, um grande artista americano que tem muitas músicas gravadas, inclusive, por Michael Jackson, sendo o outro com valsas inéditas de Luiz Gonzaga, esse conta com a parceria do grande artista baiano Gereba. Mas meu olhar principal é pela divulgação do meu novo CD, espero que vocês gostem, qualquer coisa deixe mensagens no meu site idealizado pela Mônica Rocha, que me deu e que também serve de contato.

MAIS INFORMACÕES:

As fotos do artista foram retiradas em www.j-velloso.blog.uol.com.br
Para ouvir o artista acesse - www.myspace.com/jvelloso
Contato - luzia.ofa@gmail.com
Site - http://www.jvelloso.com/
http://www.biscoitofino.com.br/
Orkut – J.Velloso

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Retorno Punk

Neste sábado (25) acontece a estreia da banda Coveiros do Cover, no Farol Music Bar, no Rio Vermelho. A festa intitulada Troca de Segredos marca o reencontro de músicos que tocaram em bandas como Camisa de Vênus, 14º Andar, Ramal 12, Utopia e Espírito de Porco. Participa ainda, a banda Persona S/A que divulga trabalho autoral. O show começa a partir das 22h. Não vão faltar músicas de grupos como The Clash, Ramones, Sex Pistols, The Jam, Talking Heads e The Who.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Entrevista: Músico tem de ser empreendedor

O americano naturalizado brasileiro Vince de Mira, 31 anos, é uma voz fundamental na cena da música alternativa independente baiana. Embora sua imagem esteja associada no posto de vocalista dos variados gêneros musicais nos quais passeiam as composições do grupo Lampirônicos, Mira também participou da saudosa banda Cumbuca, extinta de suas atividades desde 2004. Considerado como uma espécie de empreendedor da música, ele idealizou o Zona Mundi, evento intencionado a mesclar shows de artistas locais e de outros estados. Nesse ambiente, as performances vão desde música, vídeo-arte as novas tendências do mundo digital. Além disso, já adicionou outro importante trabalho ao seu currículo: o projeto Terreiro Circular, voltado a articular artistas, técnicos e produtores em um sistema sincronizado de produção da música. Não necessariamente nesta mesma ordem de tempo de producão, ele idealizou o selo Maquinário, essencial na proposta de realizar conferências além de divulgar discos de artistas ou bandas independentes que ainda trilham o atribulado caminho da consolidação. Ao blog NOITE PONTO SOM, em entrevista exclusiva, o músico destaca que as políticas públicas em termo de cultura na Bahia, estão dando um passo adiante com a publicação de editais para o setor. Por outro lado, campanhas massivas propagando a importância do ingresso dos shows para os artistas têm de ser priorizadas. Valores de entrada para os eventos têm de se adequar à realidade local. “É importante que as pessoas compreendam a função do artista e dos técnicos na promoção da diversidade cultural”, disse Vince, relembrando o nome das cidades européias nas quais tocou com o Lampirônicos. Entre os próximos projetos do cantor, estão os lançamentos de um CD autoral e um vídeo, ambos em fase de criação. Leia abaixo.

NOITE PONTO SOM – A sua relação com música se deu como?

VINCE DE MIRA -
Desde os 16 anos. Meu pai foi dono de uma casa de show entre o final da década de oitenta e início de noventa. Lá, Tom Zé fez seu último show na Bahia antes de ir morar nos Estados Unidos a convite de David Byrne. Passaram por lá também Gerônimo, Magareth Menezes, Tuzé de Abreu, Grupo Garagem, Batatinha, Nelson Rufino, dentre outros. Eu costumava abrir algumas noites apenas com voz e violão. Sempre fui meio queixão, rsrs. No meu repertório sempre estiveram presentes músicas de Baden Powell, João Gilberto, Jorge Ben...

NOITE PONTO SOM – Você foi vocalista do grupo Cumbuca. Poderia falar um pouco sobre qual era a proposta musical de vocês na época?

VINCE DE MIRA -
O Cumbuca iniciou as temporadas, se não me engano, em 2000 e parou no início de 2004, com a minha ida para o Lampirônicos. Ainda tentei manter os dois trabalhos, mas infelizmente não foi possível. A primeira formação do Cumbuca era com Tadeu Mascarenhas nos teclados e Ordep Lemos na bateria, não tinha percussão. Logo no início, Tadeu saiu e entraram dois percussionistas em seu lugar: Mamá Soares e Ricardo KK. Com a entrada deles, a banda passou a buscar uma sonoridade de melodias brasileiras interpretadas de forma visceral, assim como as levadas de percussão de rua. Queríamos passar uma Bahia cosmopolita, com influências do trip hop (Portshead, Massive Atack), muito peso e grooves coesos. A banda, em 2002, lançou o CD “Cidade de São Camaleão”, já sem Ordep que tinha acabado de fechar contrato com o Lampirônicos e a Sony Music. Daí entrou Nairo Ello na banda. A formação que gravou o disco era eu no vocal, Gilberto Monte na guitarra, Charles Veiga no baixo, Mamá Soares e Ricardo KK na percussão e Nairo Ello na bateria.

NOITE PONTO SOM - Como ocorreu de você entrar na banda Lampirônicos?

VINCE DE MIRA -
Rapaz... Eu já era amigo dos caras. Já fazíamos som juntos. Nikima já assinava algumas faixas do Cumbuca em parceria comigo e eu estava assinando uma faixa no disco seguinte deles, que veio a ser o “Toda Prece”. Quando Nikima resolveu sair, os caras me ligaram. O próprio Nikima me aconselhou a ir fazer a turnê na Europa, que já estava agendada. Sempre tive vontade de ter essa experiência, ainda mais pela abertura que o mercado europeu tem para a música feita no Brasil. Vi como uma oportunidade bacana. Mesmo assim, no início resisti muito. Tinha acabado de lançar o CD com o Cumbuca e estava adorando o disco. Enquanto que os caras começaram a fazer testes, eu até indiquei alguns nomes, mas não deu certo. Então eles voltaram a me procurar, pelo menos para fazer a tour pela Europa. Aí topei. E foi muito bom ter feito esses shows, rolaram composições novas, a turnê foi muito bacana e curti conviver com a banda. Não existiu um integrante que me fez o convite. Foi um convite coletivo. Isso colaborou muito para que eu entrasse no grupo.

NOITE PONTO SOM - Fora o vocalista que saiu, a banda Lampirônicos continua com a mesma formação musical?

VINCE DE MIRA –
Atualmente, o único da formação original é Robertinho Barreto, que toca guitarra e guitarra baiana.

NOITE PONTO SOM - Mudou algo na parte musical ou vocal após a sua entrada?

VINCE DE MIRA -
Música criada coletivamente é feita por uma soma de elementos que aparecem de acordo com a expressão de cada pessoa que faz parte do processo. Com a minha entrada, a banda passou a ter um novo elemento, assim como se perdeu outro que era Nikima. Hoje o grupo soa bastante diferente do que era no início.

NOITE PONTO SOM – Quem produziu o show do Lampirônicos na Europa? Houve alguma dificuldade para ir toca fora?

VINCE DE MIRA -
O convite partiu de Daniel Rodrigues. Ele já atua na Europa há mais de 15 anos. Fizemos shows nas cidades de Tubingen na Alemanha, Montreux na Suíça, Londres, Lisboa, Coimbra, Leiria e nos Açores, em Portugal e em Antuérpia, na Bélgica. A resposta do público foi muito boa. Achamos que podíamos ter realmente uma carreira fora do Brasil. Tivemos os dois primeiros discos do grupo distribuídos pela VIP Music em alguns países da Europa, porém, tivemos uma dificuldade muito grande com as passagens aéreas, item mais caro de uma turnê. No primeiro ano, Daniel fez esse investimento inicial e conseguiu amortizar com os shows. No segundo ano, conseguimos algumas passagens com o Ministério da Cultura. Nos anos seguintes, não conseguimos as passagens e o negócio começou a ficar inviável.

NOITE PONTO SOM - Como o Lampirônicos faz para negociar sua obra? Possuem contrato com gravadoras ou tem gestão independente?

VINCE DE MIRA -
Temos uma gestão totalmente independente. Hoje, a maioria das músicas são editadas pela Maquinário, principalmente, as de minha autoria e dos novos integrantes. O “Caia na Madrugada”, último disco da banda, foi produzido dessa forma desde a produção até a distribuição. Não focamos a distribuição desse disco em lojas de CDs, mas nos sites de relacionamento como My space, Last fm e em venda de CDs nos shows. Esse disco contou com a participação de Pio Lobato, um dos pesquisadores da guitarrada paraense e de Bau Carvalho, ex-guitarrista da banda. Os produtores do disco foram Mangaio e Marcelo Santana, integrantes da banda.

NOITE PONTO SOM - Poderia explicar como ocorre o método de composição no grupo, rola jams?

VINCE DE MIRA -
Nem sempre rolam jams... Geralmente componho letra, melodia e harmonia no violão e a banda trabalha os arranjos coletivamente. No Lampirônicos são poucas as músicas compostas através de uma jam. O que rola é que Roberto, por exemplo, muitas vezes tem uma parte de letra ou um riff que coloco letra e melodia. As instrumentais, quando autorais, são em sua maioria de Roberto.

NOITE PONTO SOM – O grupo Lampirônicos conta com estúdio próprio né? Sobre esse estúdio, quais equipamentos o compõem para gravações externas caso alguém queira fazer algum trabalho?

VINCE DE MIRA -
Na verdade, no início a sociedade do estúdio era entre os membros do Lampirônicos, mas logo isso se dissipou e ficamos eu, Marcelo e Mangaio. Hoje, eu e Mangaio saímos do estúdio. Os custos são altos, resolvemos investir em home estúdio mesmo. Mangaio tem até produzido trabalhos de outros artistas. Marcelo ainda mantém o mesmo estúdio, em sociedade com o cantor Márcio Mello. A entrada de Márcio deu uma guinada no trabalho de Marcelo, que como técnico e produtor de áudio promete bastante. Eles possuem equipamentos de ponta, tanto na captação do áudio (microfones AKG, Neuman) como ótimos pré-amplificadores (3 prés SSL 9000 + 1 SSL VHD com quatro entradas e um conversor da wave) e plataforma Pro Tools.

NOITE PONTO SOM - Quais intenções te levaram a montar o selo Maquinário? O que tem produzido?

VINCE DE MIRA -
Resolvi montar o Maquinário para poder pleitear recursos junto à iniciativa privada e a órgãos públicos para lançar novos projetos na área artística de forma independente. Ele hoje funciona como uma produtora de eventos culturais e edita fonogramas. Não temos muito o perfil de trabalhar com novos artistas, pois demanda um investimento muito grande. Um artista que está começando precisa de investimento e não temos estrutura para investir em artistas. Temos o projeto Terreiro Circular que pretende lançar algumas coletâneas de artistas de outras áreas de Salvador e do interior do Estado, através de um programa de formação de agentes circulares em todo estado como forma de promover o intercâmbio intermunicipal na música, promovendo a circulação de diferentes artistas dentro do estado. Outro projeto está sendo realizado no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), o Zona Mundi – Circuito Eletrônico de Som e Imagem, onde artistas de outros estados monitoram workshops nas áreas de vídeo arte, Vjing e música, gerando conteúdo para apresentações artísticas integradas. No verão de 2008 promovemos o “Baile Afrobeat”, ciceroneado pela Radiomundi. O baile foca em apresentações no formato de Live PA, baseados em loops extraídos de temas de Afrobeat, Dub e música brasileira. No segundo semestre devemos voltar com o evento.

NOITE PONTO SOM - Em sua opinião o que é necessário para divulgar de forma abrangente a cena independente baiana em outros mercados?

VINCE DE MIRA -
Acho que a nova música da Bahia precisa atuar de uma forma mais estratégica no ciber espaço. A construção de portais, a sincronização de ações de agentes da cadeia produtiva é indispensável (músicos, jornalistas, técnicos, produtores, artistas gráficos, vídeo – makers, etc...). Acho que os músicos e produtores precisam ser mais agressivos no mercado buscando formar redes de trabalho que garantam a sustentabilidade através da arte. A criação das redes, ao mesmo tempo em que pode viabilizar realizações de eventos, pode funcionar como uma forma de distribuição de produtos físicos e digitais, através de blogs, grupos de discussão, gerando assim uma mídia espontânea absurda. Precisamos dar continuidade às discussões, como a criação de um fórum estadual para que esse fórum se associe com outros fóruns e entidades da região nordeste. E, mais tarde, esse fórum regional gere representações para a construção de um fórum nacional sólido, juntamente, com representações de outras entidades que estão bem mais avançadas no país, como o Circuito Fora do Eixo e a ABRAFIN, por exemplo. Todas essas ações seriam um meio para interlocução da categoria da música com o Estado e com o governo federal na intenção de firmar acordos para políticas públicas para o setor. Um modelo bacana de rede é a do Espaço Cubo no Mato Grosso, os das Redes Rio e Ceará de música, entre outros que estão em estado muito mais avançado do que a Bahia. Do final do ano passado para cá, as coisas melhoraram. Já existem algumas articulações de artistas e produtores para a formação de uma ou mais organizações aqui, embora ainda não se tenha uma estruturação real disso.

NOITE PONTO SOM – Analisando o quesito noite em Salvador, os espaços são suficientes para a demanda de bandas? A viabilização de shows de música independente é boa?

VINCE DE MIRA -
À noite em Salvador ainda não está boa. Não está também pior que em outros estados, principalmente, do nordeste, vale a pena ressaltar. Temos alguns espaços que não são muitos, mas existem. Existe a Boomerangue, a Zauber Multicultura, o Portela Café, a Borracharia, Sankofa African Bar no Pelourinho, o Word Bar na Barra, outros espaços na Pituba... Talvez tenha me esquecido de alguns. Mas esses são os mais em pauta. É preciso que os artistas não esperem somente à ação dos produtores para poder realizar algo. É necessário estar intrínseco no artista o espírito empreendedor. O boi só engorda com o olhar do dono, não acha? Depois que a coisa começa a andar o artista tem que passar a delegar funções. É necessária uma cooperação maior entre os artistas, sim. Agora, é necessária uma cooperação profissional e não de “brodagem”, que é o que tem rolado muito em Salvador. Falo em Salvador, pois a ações no interior ainda são muito pequenas. É necessário que os artistas e produtores se articulem com os donos das casas de shows, pois fazem parte da mesma cadeia. Precisam achar juntos soluções para viabilizar shows. Acho que o estado tem feito conceitualmente o seu trabalho, gerando editais para ocupação de espaços públicos (Pelourinho, Sala do Coro, os domingos do TCA, Ocupação do Espaço Xisto, etc...), embora essa crise esteja atrapalhando um pouco as coisas. O estado não tem pago aos artistas. A fazenda não tem repassado o recurso para a cultura e isso é desmotivador. Tomara que isso se resolva logo. Outro elemento que conta bastante para a falta de motivação do empreendedor da música é o público consumidor em potencial. As pessoas não têm a cultura de pagar para os shows.

NOITE PONTO SOM – Que ação neste caso mudaria esse quadro cultural de não pagar shows, uma vez que alguns acham que só porque é amigo tem o direito de entrar de graça?

VINCE DE MIRA -
É necessário se fazer um estudo de escala do público consumidor na Bahia para saber até quanto essas pessoas podem pagar pelos ingressos e consequentemente os eventos podem se adequar a essa realidade. É necessário que essa pesquisa seja acompanhada de uma campanha de conscientização da importância que o ingresso dos shows tem para o artista, para que o público continue tendo acesso à cultura. É importante que as pessoas compreendam a função do artista e dos técnicos na promoção da diversidade cultural. Faço minha a máxima da eletrocooperativa, por exemplo, ”música livre e comércio justo”.

NOITE PONTO SOM - Quais são seus projetos futuros, como músico e produtor?

VINCE DE MIRA -
Atualmente estou realizando o Zona Mundi no MAM. O projeto tem tido um retorno de público bem interessante. Preciso conversar com a direção do MAM para saber se eles têm interesse que o projeto se torne permanente a partir de 2010. Pretendo ainda começar a gravar esse ano um EP com minhas composições e lançar um projeto áudio-visual que eu e Mangaio estamos amadurecendo. O projeto Terreiro Circular também deverá ser realizado em um novo formato, mais voltado para a formação de agentes para uma rede de trabalho coletivo em todo o estado.

Crédito das fotos - Ricardo Prado

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Zona Mundi em Julho

O Zona Mundi evento que envolve workshops e apresentações de artistas locais e de outros estados, acontece no dia 3 de julho, no estacionamento do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM). Neste dia, as performances ficam por conta do Dj e produtor musical Lúcio K (RJ), o núcleo de música do projeto Radiomundi e o vídeo - cenário do Coletivo Mote. O evento começa às 20h e encerra-se às 23h. A entrada é franca, porém, é preciso chegar com antecedência para ter acesso às pulseiras que são o passaporte de entrada. Performances coletivas nas áreas de música, video-arte e Vjing interagindo com música, vídeo, regionalismo e as novas tendências da arte eletrônica e digital marcaram as apresentações que aconteceram no mês de março.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Entrevista – A percussão no meio do caminho

Cássia Maria começou na música há 33 anos, naquela época, a sanfona, foi seu primeiro instrumento oferecendo a uma boa formação musical. Paulistana da cidade de Santo André, suas primeiras apresentações aconteceram em festivais de música, onde tocava e cantava suas próprias canções. Inquieta na busca de encontrar novos sons iniciou-se como percussionista quando tinha 20 anos. Já como profissional em batidas e ritmos é considerada uma das mais experientes musicistas da cena alternativa de São Paulo. Agora, como interprete e compositora de suas músicas, acaba de lançar seu primeiro CD, De Cara Pro Sol, que perpassa por várias fases da sua carreira. Definido como música pop acústica o álbum, conta ainda com a participação especial de vários músicos de renome. Atuante na cena paulista, ela acompanha alguns grupos de Choros e artistas do campo independente. Em entrevista exclusiva ao blog NOITE PONTO SOM, esta musicista, avalia que alguns produtores culturais e mídia enveredaram por uma linha em divulgar artistas somente como forma de obter lucros ou para entreter, levando ao risco de julgamentos muito rápidos e superficiais as suas obras, o que não é bom para eles. Confira à entrevista.

NOITE PONTO SOM – O seu interesse pela música se deu quando?

Cássia Maria -
Comecei com 10 anos estudando sanfona. Depois fui migrando para outros instrumentos. Amo o cavaquinho, acho que todo percussionista toca cavaco, pois, todos que conheço tocam e gostam desse instrumento. Estudei em conservatório flauta doce por dois anos. Depois fui tocar violão. Aprendi o básico para poder compor. Quando tenho uma ideia melódica transformo no violão e faço as minhas músicas. Mas não estudei quase nada, peguei muita coisa em revistas especializadas. Fiz faculdade de Musicoterapia.

NOITE PONTO SOM – Quando ocorreu de tocar na noite?

Cássia Maria -
Comecei tocando em festivais na cidade de Mauá. Rolava muita música na minha adolescência, tinha uns amigos que tocavam. Como sempre fiz músicas comecei a participar cantando e tocando as minhas composições nesses festivais.


NOITE PONTO SOM – Quando optou por tocar percussão?

Cássia Maria –
A percussão pegou forte na idade dos 20 aos 30 poucos anos. Assim fiquei mais conhecida como percussionista.

NOITE PONTO SOM - Como se deu essa transição já que inicialmente começou tocando outros instrumentos?

Cássia Maria -
Foi o ciclo natural da vida se apresentando. Primeiro veio o violão. Depois o canto, fui então cantar. Depois se apresentou a percussão. As coisas foram mudando no seu curso. A vida foi transformando não foi nada pré decidido. Na percussão tenho uma carreira profissional, toco e ganho o meu pão de cada dia. Além disso, sou professora de música. Sobrevivo com a arte.

NOITE PONTO SOM – Quais são os instrumentos da área da percussão que toca?

Cássia Maria -
Uma infinidade de instrumentos. Os mais comuns com qual trabalho são o surdo, cuíca, berimbau, moringa. Acho um belo casamento o som do berimbau com a moringa. Percussionista é sempre muito ligado em sons, à mente é muito acesa. Por isso toco também instrumentos inusitados, além, daqueles que vêm da natureza. Falando em natureza, tudo vem dela, às vezes, esses instrumentos já estão prontos e só adiciono ao meu set.

NOITE PONTO SOM – Geralmente, além de festivais musicais, músicos (a) e cantores começam tocando em bar. Quais locais na sua época abriam espaço?

Cássia Maria -
Com 24 anos comecei a tocar nos bares onde rolava boa música como, Vou Vivendo, Bom Motivo..... Fui ficando conhecida naquele meio musical e passei a fazer shows.

NOITE PONTO SOM - Como assim fazer shows?

Cássia Maria -
Deixei de tocar em bares. Pois tem muita fumaça e música para entreter. O que não gosto. Já faz quase 15 anos que não toco mais em bares. Ou seja, trabalho fazendo shows sempre em locais fechados.

NOITE PONTO SOM – Atualmente, com quais grupos trabalha na noite paulista?

Cássia Maria -
Toco com três grupos. O Trio que Chora, é um deles, além de mim também fazem parte Marta Ozzetti e Rosana Bergamasco. Toco também com o grupo Choro de Moça, formado somente por mulheres que fazem choro. Além desses, trabalho com Vozes Bulgras, onde fazemos pesquisa em relação à música Búlgara, na linha índio e negro. Tenho trabalhado também com o grupo À Quatro Vozes. Fora isso, acompanho outros cantores como Socorro Lira, Aurora Maciel, Kátia Teixeira e Consuelo de Paula que são nomes do campo independente.

NOITE PONTO SOM – Quando foi lançado o seu primeiro disco - De Cara Pro Sol? Para fazer o álbum contou com recursos de organismo público?

Cássia Maria –
O disco saiu em dezembro de 2008, em janeiro foi se espalhando. Fiz mil cópias. A produção foi totalmente independente. Já apresentei o disco no evento promovido pelo - Conversa com Verso, um espaço onde ocorre um bate papo com o público apresentando a obra para a plateia. Fiz um pocket show na Livraria da Vila. Então estamos começando a abrir espaço.

NOITE PONTO SOM - De Cara Pro Sol é um disco que perpassa por várias fases da sua carreira?

Cássia Maria –
São composições minhas e não tem muito a ver com a percussão. Tem uma música que fiz quando tinha 17 anos. Apresentei essa música no primeiro festival do qual participei e chama-se Meu Anjo. Fui colocando outras composições que fazem parte do percurso da minha vida, por exemplo, têm músicas que foram feitas recentemente. Levei dois anos para fazer esse disco, não tinha pretensão de fazer um álbum, mas de somente registrar as canções. Contudo quando entrei em estúdio um amigo o Jardel Caetano, foi fazendo as harmonizações, achei bonito e resolvi fazer o CD. O disco ficou legal, está sendo bem divulgado. São doze músicas minhas e somente em uma delas tem a parceria de Regina Machado, uma cantora bem conhecida em São Paulo.

NOITE PONTO SOM – Quais gêneros musicais são trabalhados no disco e como define seu som?

Cássia Maria -
O disco é Pop-Zen, pois tem reggae, sambinha, ou seja, um som pop limpo totalmente acústico.

NOITE PONTO SOM – São Paulo é um lugar digamos onde a coisa “acontece” para muitos artistas. Como avalia esse cenário no qual vive diariamente?

Cássia Maria -
A música independe está um pouco sem espaço. São Paulo é uma cidade aberta a todos os sons e por ser aberta enche, todos convergem para cá. Tem muita gente boa, muita gente capaz. O Brasil é um celeiro de música onde as pessoas têm uma musicalidade excelente. È uma grande capital, uma grande metrópole, mas está carregada e essa crise abalou geral, principalmente, a cultura e nessas crises o primeiro que se tira ajuda e incentivo é da arte e da educação.

NOITE PONTO SOM - Por mais que esteja “cheio”, não acha que falta atitude de alguns produtores para realizar eventos?

Cássia Maria -
Acho que não interessa muito para os produtores e para a mídia investir, pois, na produção independente a maioria dos artistas não são muito conhecidos do público. A não ser que apresente algo com a “cara” de que vai dar lucro ou que tenha a participação de algum convidado famoso, assim torna-se mais fácil de conseguir as coisas. Senão vem aquele discurso; você é independente, não é conhecido e desejamos público, retorno...

NOITE PONTO SOM - Como lida com as novas ferramentas tecnológica na sua música?

Cássia Maria -
Uno o acústico com o eletrônico. Uso uma percussão sampleada em uma das músicas que fiz. Ficou muito interessante. Não gosto de nada de eletrônico, mas achei a P10 da Roland maravilhosa, tem o timbre exato do instrumento. Dessa forma coloquei em algumas músicas. E ficou bom.

NOITE PONTO SOM - Alguns segmentos musicais banalizam a figura da mulher seja nas letras ou até na coreografia em suas músicas. Como você avalia essas questões?

Cássia Maria -
Embora, estejamos em alguns pontos avançando, a figura da mulher tem um lugar muito insignificante em todas as áreas, não só nas artes. Ela é muito precisa para estar nesse lugar em que estar, vivemos ainda em um país muito patriarcal e machista. A mulher é diminuída no que pode. Falando como percussionista, avalio que têm muitas mulheres que tocam bem, mas os homens que também são bons músicos aparecem mais. Mas, enfim, não tem muito espaço para a mulher, no geral. Isso não é novo, infelizmente, é uma coisa muito antiga. Acredito que estamos caminhando embora muito lentamente para romper isso. As mulheres estão na luta, muita coisa mudou, mas é uma realidade o preconceito, somos engolidas por esse marxismo ignorante.

Para ouvir a artista acesse: http://www.myspace.com/cassiamaria1
Crédito da Foto da artista sentada no Carrón - Gal Meirelles

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Entrevista: Canções em tempo de produção independente

Paraibana da cidade de Brejo do Cruz, tendo na sua música forte sotaque regional, uma vez que, através do rádio conheceu as canções de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Clara Nunes, Marinês e as cantorias de viola. A cantora e compositora Socorro Lira, 35 anos, é uma talentosa musicista da fértil safra da música popular brasileira, surgida há tempos na esfera independente. Tendo lançando cinco discos, ela considera a indústria fonográfica não divulgadora de expoentes alternativos culturais, porém, afirma haver espaço para diversos gêneros. Contudo, a crítica da cancionista se volta para artistas que não se posicionam no mercado, isto é, assumem critérios estabelecidos pela indústria, sem ao menos revelarem seus pensamentos. Se dependesse de sua própria vontade, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), criado para taxar locais ou empresas que oferece a seus clientes o encanto ou aborrecimento da música ambiente, gravada ou ao vivo, já teria deixado de existir há muito tempo. Em entrevista ao blog NOITE PONTO SOM, Lira avalia que os suportes CDs-DVDs, terão ainda vida longa, ao contrário da visão de alguns especialistas que professam existência curta aos formatos. A compositora em 1985, saiu da roça e iniciou-se ao violão como autodidata vindo, mais tarde, a aprofundar os estudos desse instrumento na universidade de Campina Grande. Permaneceu em Campina até 2004, ano em que resolve fixar residência na capital paulista. Eis à entrevista abaixo......ah....saudações ao nascimento!!!.... Viva Bia!!

NOITE PONTO SOM - Como surgiu a ideia de fazer o show Cordelirando – Mulher também faz Cordel, em Salvador?

SOCORRO LIRA -
Há uns três anos atrás Fanca, uma amiga minha conterrânea da beata Maria de Araújo, apresentou-me a poesia de Salete Maria. E gostei muito. Além disso, Fanca me sugeriu que musicasse algo de Salete. Como levo muito a sério essas sugestões que veem de fora, pois, pelo menos boa parte delas fazem muito sentido. Passei a ler as coisas de Salete, até que um dia parei para ver direito esse cordel da beata, uma peça já escrita para teatro. Musiquei e gostei do resultado. Então comecei a decorar o texto e estreei em um projeto do Sesc Santana, em São Paulo, chamando de Cordel Desdobrado. Vi que as pessoas, como eu, gostaram de ouvir essa história re-contada desse jeito. Dessa forma, de lá pra cá, venho introduzindo detalhes ao texto, como gestos performáticos, vozes e instrumentos; assim é que chegamos ao ponto em que estamos. Mas creio que há muito que melhorar e para acrescentar ao espetáculo que vai se re-compondo a cada apresentação.

NOITE PONTO SOM - Como faz para negociar sua obra, já que não tem contrato com gravadoras.

SOCORRO LIRA -
Dou de graça para quem quiser cantar ou gravar. Se tiver alguém, querendo gravar uma canção minha e, ainda, assim puder dar algum para o laboro aceito, porque preciso pagar as contas. Quanto às grandes gravadores, essas não sabem que existo. Aliás, muitas delas não se interessam por quem pensa por quem se posiciona. Elas querem “artistas” fabricados, pau - mandado, que tem de sorri o tempo todo, dizer que o mundo é cor-de-rosa e abrir os dentes toda vez que alguém da televisão liga uma câmera à sua frente. A grande indústria da música e do entretenimento quer pessoas incapazes de fazer uma reflexão sobre esse mundo miserável e inútil criado pelo capital, e que nós todos (as) ajudamos a manter. Esse mundo é ditado por ricos gananciosos e levado nas costas por nós que trabalhamos na música, na imprensa, na agricultura ou em qualquer outra repartição onde a gente se mata de tanto trabalhar. Nesse sentido, vivo um paradoxo. De um lado acredito que a arte é coletiva e que a música que faço não é só minha; e, em determinadas circunstâncias, sou contra a esse negócio de “direito autoral” que abriu espaço para o comércio da arte e do pensamento e, conseqüentemente, para essa promiscuidade desse setor empresarial. Quanto vale um pensamento? E um sentimento? Entretanto, vivo entre uma coisa e outra, tentando não vender minha alma nem a deus, nem ao diabo. Não é um absurdo eu ter que pedir permissão ao Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) para cantar minha própria composição? Eu não gostaria de fazer parte desses esquemas, mas sou obrigada, do contrário não me deixam trabalhar.

NOITE PONTO SOM – Assim a vantagem é ter gestão própria?

SOCORRO LIRA -
Uma vantagem é não ter rabo preso com ninguém e assim posso cantar como quero, dizer o que penso gritar quando devo e chorar quando preciso. Mas tem um preço.

NOITE PONTO SOM - Como define a música que faz?

SOCORRO LIRA -
Não sei definir. Acho que se parece comigo, só, é minha cria.

NOITE PONTO SOM - Seu último disco, Intersecção a Linha e o Ponto - além de arranjos muito bem trabalhados e da suas ótimas interpretações para as canções, têm um trabalho visual belíssimo. Como surgiu essa ideia?

SOCORRO LIRA -
Essa arte é de Kátya Teixeira, uma artista de São Paulo. Como o conteúdo do CD tem a ver com a visão, ainda que limitada, que tenho da vida e do mundo, ela trabalhou detalhes como o olhar, por exemplo. Tudo simples, simples e bonito.

NOITE PONTO SOM - Tiveram algum apoio financeiro? Lei de incentivo à cultura ou algo do gênero?

SOCORRO LIRA -
Esse projeto em especial sim. Foi contemplado pelo programa Petrobras Cultural 2004-2005, via Lei Rouanet. Com criatividade e algum dinheiro é possível fazer coisas interessantes.

NOITE PONTO SOM - Quando compõe se prende mais na parte melódica ou nas poesias das músicas?

SOCORRO LIRA -
Depende... Gosto de fazer as duas coisas. Penso a canção como um corpo que tem osso, músculo, pele, respiração. Respectivamente, por analogia, a canção tem a letra, a melodia, o arranjo e a mensagem.

NOITE PONTO SOM - Houve algum arranjo complicado do ponto de vista da criação?

SOCORRO LIRA -
Essa parte de arranjo prefiro confiar a alguém melhor que eu, que tenha bom conhecimento da escrita musical. Geralmente trabalho com Jorge Ribbas (produtor musical), que faz meus CDs desde o começo, lá pelos idos 2000. Mas quando alguma coisa não me agrada, eu chamo um músico e digo toque assim, toque assado... até eu ficar contente!. Outra possibilidade que uso bastante é dizer para o músico que vai gravar um instrumento sobre uma base já pronta o seguinte; toque aí como você quiser.... E, geralmente, fazem improvisos maravilhosos que entram para o CD.

NOITE PONTO SOM - Entre todos os seus arranjos, há um favorito?

SOCORRO LIRA -
Ah, não saberia dizer. Em um momento me surpreendo mais com esse, em outro momento com aquele......

NOITE PONTO SOM - Como você vê o atual panorama da música popular brasileira?

SOCORRO LIRA -
Uma grande confusão acerca do que tem mesmo ou não um valor artístico. Basta fulano (a) tocar em algumas “rádios” - ainda que sob o preço de altos jabás - a multidão, “induzida”, acredita que aquela pessoa é artista. Por que não muito longe do nosso tempo, ser artista era outra coisa: a pessoa tinha que ter um talento nato para uma atividade, desenvolver esse talento e ser referendado, só por esse mérito e pelo público. Agora qualquer pessoa que aparece num programa qualquer de TV vira artista, famosa por nada. Eu não me sinto artista não. Acho que sou uma operária das palavras e da música, trabalho um aspecto disso para garantir a cesta básica. Porque criar, isso sim está totalmente fora da internet, do mercado, dos selos e das gravadoras, dos MP3s... Criar estar “dentro”, em algum lugar que só se sente. Vejo... Aliás, não vejo bem, nesse momento. O cenário atual, não apenas nas artes, mas em todos os espaços da vida, parece-me nublado.
NOITE PONTO SOM - Estamos num momento digamos de mudança na indústria musical, muito se discute sobre a sobrevivência deste (CD) ou daquele formato (Vinil). Como você avalia essa questão tecnológica?

SOCORRO LIRA -
Hipóteses. Ainda não sabemos o que virá como suporte físico para o som depois do anunciado fim do CD. Por enquanto ainda é o CD e o DVD. Pessoalmente, acho que o CD chega mais que o DVD porque, necessariamente, não se precisa parar diante de um aparelho de TV para ouvir o som. Enquanto se arruma a casa ou se dirige um carro, por exemplo, ouve-se uma canção. Uma questão a se considerar com relação às mídias de suporte de áudio, é que ficou muito fácil copiar um CDR, comprado ao preço de R$ 0,40. Entretanto, não reclamo dessa forçada distribuição da música como produto cultural. O que mais me preocupa é a qualidade da coisa que é dita, é o que se passa para população, como mensagem, através disso que se chama música; seja pela internet, pelo rádio ou pela TV. Preocupa-me o fato de o critério de escolha das programações seja a grana, o lucro em detrimento da arte. Mas creio que o CD e o DVD ainda terão algum tempo de sobrevida, até que algo mais eficaz os substitua, espero.

Para ouvir a artista acesse
http://www.myspace.com/socorrolira

Créditos das fotos – Alexandre Andredade, Kazuo Kajihara.
Arte gráfica - Duda Bastos