terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Uma história dedicada à canção nordestina



Foto - Vilmar Oliveira
Cultivador da cultura de raízes da zona rural baiana por meio da música, o cantor e compositor Moacy Mendes conta um pouco de sua trajetória musical e da relação afetuosa com a cidade de Jequitinhonha, situada na região nordeste do Estado de Minas Gerais. Também, nesta entrevista, ao blog NOITE PONTO SOM, ele fala sobre o cenário musical baiano, produção e entraves. “Entendo que o trabalho do artista não é só a realização do show. Este trabalho envolve toda uma atividade de preparação até que o seja concretizado”. Confira a entrevista abaixo.

NOITE PONTO SOM - Como se deu o seu envolvimento com a música?
MOACY MENDES - Por volta dos idos de 1968. Quando ainda criança, morando com minha família, em um sitio na cidade de Acajutiba-BA, lembro-me que meu pai, nesta época, comprou nosso primeiro rádio, o que para mim foi uma grande festa. Com muita alegria, me deleitava ouvindo e gravando as músicas na memória para sair cantando pelas veredas do nosso grande sitio os sucessos da época. Sucesso esses nas vozes de cantores da Jovem Guarda, como Jerry Adriane, Wanderlei Cardoso, Paulo Sergio, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Sergio Reis e tantos outros. Recordo-me que quando acordava pela madrugada para ajudar meu pai, em alguma atividade para a qual ele necessitava de meu apoio realizado junto a nossa casa, ficávamos ouvindo os programas caipiras no rádio. Cujo apresentador de um desses programas ainda lembro o nome, Jota Luna. Além disso, ouvia e gostava muito de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, ícones da musica nordestina, que até hoje me inspiram na criação e realização do meu trabalho.

NOITE PONTO SOM - E a sua primeira apresentação, como foi?
MOACY MENDES - Foi em 1974, já morando na cidade de Alagoinhas-BA. Cantei pela primeira vez para uma platéia, em um festival estudantil intitulado de Festival Estudantil da Música Popular, (FEMUP), ganhando o meu primeiro premio, um troféu simples, mas, de um significado muito grande, pela conquista do 3º lugar neste festival.

NOITE PONTO SOM - De lá pra cá, quantos discos gravou ao longo desse tempo?
MOACY MENDES - Discos foram vários, sempre com produção independente. O compacto (vinil) intitulado Coisas da Bahia (1983), juntamente com a banda Som da Terra, da qual fazia parte na época dividindo o palco com a cantora Marinez (ex-cantora da Banda Reflexos). Na carreira solo, em 1987, a música Minha Terra, Meu Lugar, dá nome ao disco lançado neste mesmo ano. Teve também O Grito de Alerta de 1993. Em 1996, o Cravo e Canela, o Forró Festa Brasileira em 2001. Em 2004, gravei Coração Nordestino, contando com a participação especial do forrozeiro Adelmário Coelho, em uma das faixas. Em 2008, na linha do forró tradicional, gravei o disco Falando de Amor. E o trabalho mais recente, intitulado Pelo Vale do Jequi (2010). Esse é mais um trabalho autoral, trazendo uma faixa com uma composição do meu amigo Tadeu Oliveira. Esse disco foi produzido especialmente para homenagear uma região rica de belezas naturais e de pessoas de bons sentimentos, o Vale do Jequitinhonha, norte de Minas Gerais.
Foto - Vilmar Oliveira
NOITE PONTO SOM - Qual a sua relação com a cidade de Jequitinhonha?
MOACY MENDES - Este disco foi produzido com o objetivo de homenagear o Vale do Jequitinhonha. E em especial a cidade de Jequitinhonha, localidade que se situa na região Nordeste do Estado de Minas Gerais. Tenho uma afinidade muito forte com esta região, já que, foi em Jequitinhonha no ano de 1979, que conheci e me casei com aquela que me acompanha até hoje. Em julho do ano passado, (2011), fiz o pré-lançamento desse trabalho quando tive a oportunidade de participar da 29ª edição do festival tradicional, que acontece no Vale do Jequitinhonha, desde o ano de 1982, Festivale, alternando-se a cada ano entre as cidades que compõem o Vale. Este disco tem dez faixas, sendo nove de minha autoria e uma do meu amigo cantor, compositor e acordeonista Tadeu Oliveira. Participaram da gravação deste disco, os músicos: Fábio Passos e Tadeu Oliveira, nos violões; Tadeu Oliveira, no acordeom, piano, efeitos e coro; Lucas Mello, no baixo; Fabrício Rios, no bandolim e cavaquinho. Além de Aucioly no Sax; Ton no Trompete; Marcos Freire na bateria e Ninho na zabumba.

NOITE PONTO SOM - Ao logo desse tempo de estrada muitos músicos já colaboram na formação do seu trabalho...
MOACY MENDES - Sim. Muitos músicos já tocaram comigo, que ficaria difícil citar todos esses amigos que colaboraram de forma especial no trabalho. Porém, posso citar alguns, companheiros que hoje fico muito contente em vê-los atuando com destaque no cenário musical brasileiro, como Luciano Pinto (tecladista e diretor musical da cantora Claudia Leite), Serginho (guitarrista e cantor) e Aurelino (baterista) da Banda Adão Negro. Apesar de não poder citar todos aqui, agradeço muito a todos esses profissionais e amigos, pois tiveram uma importância muito grande na construção da minha história.

Foto - Dani Dias
NOITE PONTO SOM - Que tipo de mensagem pretende transmitir por meio de sua música para o público?
MOACY MENDES - As vibrações de alegria e descontração que a harmonia produz, buscando inserir um sentimento que traduza as minhas raízes fincadas fortemente na zona rural da cidade do interior. Transmito a beleza agreste que encanta e emociona àqueles que se deixa envolver pelo conteúdo das letras das nossas canções, não deixando de chamar a atenção para a importância ao respeito à natureza e a utilização dos seus recursos de forma sustentável. Além de buscar a valorização da cultura e do potencial humano das pessoas mais humildes que povoam esta região.

NOITE PONTO SOM - Com se dá seu processo de composição? Quais são seus parceiros de composição?
MOACY MENDES - De modo geral, minha inspiração se dá de forma muito particular, sendo justamente, por isso, que não possuo muitos parceiros, exceto em algumas poucas canções. Uma que dividi a autoria com Luciano Pinto, Alan Morais, Nino Bala e Durval Luz, outra com o amigo Luciano Maia, uma terceira com o compositor Oscar Neto, e por ultimo, uma com o guitarrista Tony Augusto. Cada uma dessas canções gravadas em CDs diferentes. As composições geralmente vêm com o inicio de uma melodia. Depois vai se desenvolvendo a partir do momento que escolho um tema e começo a desenvolver a letra, ou ao contrario, o tema já existe, busco desenvolver a letra ajustando a melodia ao mesmo tempo.

NOITE PONTO SOM - A seu ver, atualmente, quais são os entraves para se trabalhar com música na Bahia?
MOACY MENDES - Há muito tempo são grandes as dificuldades para se trabalhar com música na Bahia. Atualmente, mesmo com uma pequena melhora, é muito difícil, principalmente, para aqueles que não tiveram a oportunidade de serem propagados pela grande mídia. Faltam bons espaços apropriados para eventos de vários portes e empresários que valorizem e distribuam melhor os ganhos com os artistas. Entendo que o trabalho do artista não é só a realização do show. Este trabalho envolve toda uma atividade de preparação até que o show seja realizado. E que o cachê faça jus e seja bem superior ao que se pratica atualmente, o que dificulta bastante na sobrevivência do artista.

Foto - Dani Dias
NOITE PONTO SOM - Quais serão seus próximos projetos musicais, que conselho daria para aqueles que pretendem trabalhar com música regional?
MOACY MENDES - Estou buscando captação de recursos para realizar alguns shows nas principais cidades do Vale do Jequitinhonha, a fim de fazer o lançamento do Cd “Pelo Vale do Jequi”. Também desejo realizar um projeto de circulação do nosso show; A Saga de um Caatingueiro, por algumas cidades da Bahia. O que posso dizer é que para realizar qualquer tarefa é importante que se possa desempenhá-la com prazer e verdade nos nossos sentimentos. A verdade vem a partir do conhecimento de causa para que possa transmitir a idéia com confiança e vibração positiva. Pense, crie e expresse as suas verdades construindo a sua história e tocando a vida em frente!

Crédito de fotos - Dani Dias - Vilmar Oliveira

OUÇA MOACY MENDES - AQUI