segunda-feira, 6 de abril de 2009

Entrevista: De corpo e alma no Samba

Em ascensão no circuito musical alternativo soteropolitano, não pela sua pesquisa nas manifestações da cultura popular, mas pela admirável voz. Que envereda pelos caminhos de ritmos como lundu, maxixe, sembas angolanos e choro, onde sua interpretação repercute variações rítmicas que evocam melodias fortes. A cantora Juliana Ribeiro, diz que seu primeiro CD, encontra-se em fase de finalização, assim afirma o quanto à produção independente é prazerosa e, ao mesmo tempo, ardorosa. Indicada ao Troféu Caymmi, na categoria revelação, Ribeiro diz ser necessário ter responsabilidade sobre com o que se canta, principalmente, quando o assunto volta-se para a figura da mulher, pois a banalização em alguns segmentos torna-se um retrocesso no universo da música. Por outro lado, a cantora considera o choro como um gênero musical, constituído com o passar do tempo em valor simbólico, artístico, econômico e distinto a outro gênero musical, o samba. Em entrevista ao blog Noite Ponto Som, Juliana traduz a força e não mesmice da música baiana, além disso, destaca, Clementina de Jesus como uma de suas referências no seu momento audição. Confira.

NOITE PONTO SOM - Como surgiu seu interesse em seguir a carreira de cantora?

Juliana Ribeiro -
Sempre tive ligação com a arte. Cantava no coral da Universidade Federal da Bahia (Ufba) aos 16 anos e pensava em fazer vestibular para teatro. Em 2001, quando recebi o convite para ser vocalista da Zaccatimuana (grupo baiano que faz uma fusão de ritmos e sonoridades, dando uma roupagem nova a canções de compositores já consagrados da música popular brasileira), é que a música se tornou concreta para mim. A partir daí comecei a fazer aulas de música e busquei formação técnica em canto, além das extensões em canto popular na Universidade de Campinas (Unicamp) e em São Paulo.

NOITE PONTO SOM - Do que é feito o samba? Já que a definição de samba vincula-se fortemente à definição de outro gênero musical, o choro.

JULIANA RIBEIRO -
Este nome na verdade é uma provocação, não me proponho responder esta pergunta. As pessoas que assistem meu show saem de lá com outra opinião a respeito do samba e da sua construção histórica. Forneço matéria sonora e prefiro que os fãs tirem suas próprias conclusões. Porém “De Areia” – nome do meu segundo show-é a resposta poética para esta pergunta, pois foi no barro do chão dos terreiros, casas de samba, e na areia dos sambas praieiros que encontrei um novo caminho para meu trabalho.

NOITE PONTO SOM - Como você avalia a diferença entre a música de samba e choro? Já que, o samba se distingue do choro por utilizar, de modo mais incisivo, outros instrumentos de percussão como prato e faca, agogô, cuíca, surdo, chocalho, tamborim, caixa de fósforo e outros, quase sempre ao sabor de preferências pontuais e da disponibilidade dos tocadores...

JULIANA RIBEIRO -
Primeiramente o choro não se constituiu como gênero musical. Na sua construção histórica ele não nasceu como um gênero (os músicos faziam acompanhamento para os cantores da época), mas se constitui como um, com o passar do tempo. Era uma formação popular de músicos que acompanhavam os cantores solistas e tinham um modo “chorado” de tocar - Pixinguinha que o diga. O samba se constitui de outra maneira; era uma manifestação cultural, uma reunião de amigos na casa das Tias baianas entre os séculos XIX e XX, lá no Rio, um estilo mais livre onde as pessoas brincavam, trazendo à roda a memória das tradições africanas de infância. O uso de pratos, faca, vem justamente deste clima de intimidade, onde os utensílios da cozinha eram utilizados para fazer música.

NOITE PONTO SOM - Como você avalia a diferença entre o samba instrumental e os sambas cantados?

JULIANA RIBEIRO -
Como formas de expressão artística-musical diferenciadas, sem adequação valorativa; ambos são maravilhosos e necessários a construção da música popular no Brasil.

NOITE PONTO SOM - É possível pensar em sambas gravados com arranjos orquestrais?

JULIANA RIBEIRO -
Claro que sim! Era o que se fazia nos anos 30 à 50 no Brasil. Haja vista, maestros como Radamés Gnattali, Luciano Perrrone, entre outros que criavam arranjos com uma orquestra brasileira.

NOITE PONTO SOM - Como você compõe? Faz primeiro a música ou a melodia? Quem são seus parceiros? Existe algum ritual na hora de compor..... ou rola jam sessions com os músicos?

JULIANA RIBEIRO -
Bom para mim que sou cantora, a melodia vem sempre primeiro. Depois a letra vem chegando através de imagens melódicas. Meus parceiros em geral são bons de harmonia. Mas não há fronteiras para parcerias, cada parceiro contribui de forma diferente. Com Gil Meireles (professor de música e que toca violão, piano e baixo acústico) sai de um jeito, com Tito Fukunaga (professor de flauta do Teatro XVIII e percussionista) de outro.

NOITE PONTO SOM - Agora você está trabalhando o próximo disco, certo? Fale um pouco sobre isso?

JULIANA RIBEIRO - Estarei lançando em maio um EP com seis canções, entre autorais e de compositores baianos da atualidade, alem de um Lundu de 1880. Um CD é como um filho; tem seu tempo próprio de nascer. A gente aprende de produção, gestão, empresariado, gerenciamento e mais importante; lidar com as emoções, já que na hora de gravar o estudo técnico não acontece sem ”tripa”, sem alma.

NOITE PONTO SOM - Vamos falar de música em Salvador. Dá para viver apenas cantando?

JULIANA RIBEIRO -
Acho importantíssimo dignificar o trabalho artístico. Eu como cantora me vejo como uma dentista ou professora, preciso viver bem do meu trabalho e não sobreviver dele. Necessário sim, agregar qualidade a tudo que se faz e neste quesito sou perfeccionista. Além disso, sou mestranda do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal (Facom), onde estudo o samba, suas origens e trajetória.

NOITE PONTO SOM - Ok vamos dar espaço ao que é bom - o que você tem ouvido? Quem está com bom trabalho no mercado baiano em sua opinião?

JULIANA RIBEIRO -
Realmente tenho um espírito velho... O que pesquiso e canto é de coração o que mais gosto de ouvir. Neste momento minha maior referência é a Clementina de Jesus a quem estou pesquisando. Tem trabalhos maravilhosos, com parcerias diferenciadas como o Rosa de Ouro, João da Baiana e até Araci Côrtes; é uma diva!

NOITE PONTO SOM - O que mais lhe agrada e desagrada atualmente na música brasileira?

JULIANA RIBEIRO -
Adoro a multiplicidade de influências, o caldeirão sonoro que acontece neste país. Quanta coisa pra conhecer, até me assusta! Não tenho nada contra gêneros musicais específicos, mas sim contra a banalização e agressão que é praticada à mulher em determinadas letras. Acho um retrocesso para as relações humanas e às trocas sociais pensar a mulher como um objeto coisificado. É preciso pensar criticamente o que se canta, pois a manutenção deste status é colaborar com o preconceito.

Crédito das fotos - Marcelo Mendonça
Ouça a cantora em - http://br.myspace.com/julianaribeirocanta

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Fotógrafa retrata movimento de aves

A exposição intitulada Balé das Gaivotas mostra imagens da fotógrafa, pesquisadora e professora universitária Gal Meirelles e revela o movimento das gaivotas que auxiliam os pescadores artesanais na Baía de Todos os Santos. As lentes da fotógrafa se assentam nas comunidades da Ilha de Itaparica, especificamente a de Baiacu, localizada à contra-costa do município de Vera Cruz.

Por meio de 20 imagens em P/B, Gal Meirelles captura o deslocamento dos bandos de gaivotas entre a costa e as enseadas para localizar os cardumes de espécies como xangós, pititingas, chicharros e sardinhas. As aves mantêm estreita cooperação com os pescadores, indicam os cardumes e em troca acompanham as embarcações à caça dos peixes que permanecem nas redes.

Outro destaque da exposição é que os títulos das imagens fazem referências a passos e posturas de balé clássico, visto que as próprias imagens metaforizam a dança. Assim, os visitantes terão a oportunidade de ver e sentir a leveza da fixação dos movimentos e recriarem um universo de sensações, talvez, esquecidas.

Após seis anos de pesquisa, junto a programas de pós-graduação da Universidade Federal da Bahia e a constituição de um acervo de inestimável valor documental e artístico, Gal apresenta Balé das Gaivotas, não sendo esta sua primeira exposição. Já que em 2008, Meirelles inovou no cenário fotográfico baiano com a mostra O peixe nosso de cada dia, instalada por três meses a céu aberto no porto de Baiacu.

Agora, em Balé das Gaivotas, brinda o espectador com uma composição visual que explora os microtons de cinza e registra o movimento característico dos bandos de gaivotas do gênero Laurus, o mais abundante na costa brasileira.

Em cliques precisos, as lentes flagram a tensão da caça, a exatidão da captura da presa e o requinte das disputas entre as aves e os pescadores. A limpidez das imagens descortina ao espectador um mundo invisível diante das problemáticas do cotidiano, remetendo-o aos mais profundos anseios de liberdade e ermamento.

A exposição Balé das Gaivotas acontece no Empório Grão de Arroz, – na Rua Minas Gerais, 133 Pituba, às 18h, no dia 02 de abril, havendo coquetel na abertura e mini-show da cantora e compositora Socorro Lira. A visitação é gratuita e ocorre de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h, aos sábados das 9h às 14h, encerrando-se no dia 30 de abril.


MAIS INFORMAÇÕES:

EXPOSIÇÃO: De 02 a 30 de abril. Balé das Gaivotas - da fotógrafa Gal Meirelles.
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL: Na abertura da exposição haverá Mini-Show da cantora e compositora Socorro Lira.
LOCAL: No Empório Grão de Arroz, – Rua Minas Gerais, 133 Pituba, tel:. 3248-9535.
PERÍODO DE VISITAÇÃO: De 02 a 30 de abril de 2009/ Segunda a sexta, das 9h às 19h e aos sábado de 9h às 14h.